Shark Tank Brasil: como não fazer um investimento anjo

Investidores anjos que exigem 30 a 50% de participação societária de uma startup em uma rodada seed acabam matando seu próprio investimento

Shark Tank Brasil começou a passar nas televisões brasileiras no ano passado e desde então investidores brasileiros como você tiveram a oportunidade de escutar e julgar a qualidade de investimento em startups do conforto de sua casa ou escritório. No programa Shark Tank Brasil, empresas startups se apresentam para um painel de empresários que atuam como investidores anjos, analisando e questionando a proposta do empreendedor e decidindo se querem investir na startup.

O Shark Tank apresenta uma oportunidade legal para você como investidor com interesse em construir sua própria carteira de startups, pois ao assistir o Shark Tank, você consegue praticar sua análise de uma oportunidade de investimento em startups e decidir se faz sentido fazer um investimento anjo na startup.

Essa análise de investimento em startups em tempo real é interessante, divertida e podia ser até educacional. Porém, surgiu uma prática preocupante no Shark Tank Brasil que é extremamente prejudicial e que você como investidor deve evitar ao investir em startups. Para entender o porquê, é bom considerar primeiro o motivo de se investir em startups.

Invista em startups que poderão valer milhões ou bilhões no futuro

O motivo principal de montar um portfólio de startups é de ter participação em várias empresas com o potencial de se tornarem empresas milionárias dentro de um prazo de 4-10 anos. Mas essa transformação de startup para empresa milionária ou bilionária não acontece organicamente.

Empresas com modelos escaláveis têm que fazer várias rodadas de investimento, recebendo aportes de milhões de reais ao longo da sua vida, para então atingir esse nível. Se uma empresa no seu portfólio consegue fechar rodadas seguidas de investimento com sucesso, é possível que ela seja adquirida por uma empresa maior no futuro.

Nesse momento, você venderá sua participação e realizará um belo lucro, possivelmente 10-30x do valor que você investiu inicialmente, por exemplo. São esses potenciais retornos financeiros que fazem com que montar um portfólio de startups seja tão interessante para você como investidor.

Exigir equity demais é um “tiro no pé” do seu próprio investimento

Para receber esse investimento ao longo das rodadas mencionados, é padrão que os sócios da empresa ofereçam participação societária aos investidores em cada rodada em troca do dinheiro necessário para acelerar a expansão.

Investidores anjos sensatos que miram grandes retornos financeiros estão conscientes desse fato e levam isso em conta no momento de investir em uma startup em uma rodada seed. Contudo, parece que os investidores anjos do Shark Tank Brasil perderam essa visão.

As startups no Shark Tank geralmente oferecem 10-25% de participação societária (“equity”, em inglês) aos investidores anjo em troca do aporte financeiro pedido. O problema é que se os investidores anjo gostam da startup, geralmente fazem uma contra-proposta, oferecendo o total do investimento pedido mas exigindo muito mais equity: entre 30-50% de participação societária, ou no pior dos casos mais.

Essa prática pode até funcionar para um “lifestyle business” e dado que o investidor anjo planeja investir seu tempo e trabalho duro junto com o aporte financeiro ao longo da vida da empresa. Mas, para uma startup com modelo escalável e uma oportunidade de conquistar ou até criar um novo mercado, essa prática é tóxica, reflete uma mentalidade de curto prazo e mostra uma falta de entendimento da meta financeira de se investir em startups.

O investidor anjo que exige 30-50% numa rodada seed mata seu próprio investimento em uma startup,  pois há grandes chances de que os sócios ficarão desmotivados no médio a longo prazo, podendo até desistir da empresa .

A dedicação e trabalho incessante dos sócios-fundadores é essencial para liderar a startup através das etapas de crescimento até chegar em uma empresa estabelecida que conquistou uma parcela significativa de mercado. Sem a dedicação dos sócios, a empresa não tem chance de chegar a ser uma empresa milionária ou bilionária. Para o investidor anjo, isso significa que é pouco provável que ele consiga vender sua participação por um valor interessante. Assim, esse 30-50% acabam valendo pouco ou nada.

Para entender como isso acontece na prática, vamos a alguns exemplos.

Exigir equity demais na rodada seed deixa a empresa não investível 

No exemplo acima, o investidor anjo exigiu 40% participação societária na rodada seed, e é razoável presumir que ele investiu um valor suficiente para sustentar o crescimento da empresa durante um ano. Depois desse ano, a startup pode ter feito ótimo progresso, mas ainda terá que captar mais investimento para continuar a expansão acelerada.

O problema é que devido ao fato de ceder 40% ao investidor anjo na rodada seed, os sócios somente têm capacidade de realizar mais uma rodada de investimento antes de perder controle da empresa. Os fundos de investimento venture capital já lidaram bastante com esse problema e muitos até têm regras proibindo o investimento em empresas nas quais os sócios já cederem participação societária demais nas suas rodadas anteriores. Esses fundos entendem que depois do investimento deles, os sócios serão tão diluídos que terão pouco incentivo para continuar se dedicando à empresa, resultando no fracasso da startup e, portanto, do investimento.

Rodadas de 10-20% equity são saudáveis

Para uma startup crescer suficientemente até uma potencial saída, é razoável presumir que terá que passar por 4 rodadas de investimento durante 4-6 anos. Em cada rodada, uma prática sensata é que a startup ofereça entre 10-20% de participação societária. Geralmente, essas são as porcentagens necessárias para interessar investidores e ao mesmo tempo assegurar que os sócios manterão um nível de participação suficiente para que eles fiquem motivados. A tabela abaixo demonstra um caminho saudável.

Ao longo dessas rodadas, os sócios mantêm controle da empresa com uma participação majoritária. Isso aumenta a possibilidade da startup fechar rodadas subsequentes com fundos, por exemplo, pois os sócios ficam constantemente motivados para trabalhar focados no sucesso da empresa.

Com esses investimentos “follow-on”, a empresa conseguirá escalar, potencialmente atingindo um valuation de milhões ou até bilhões de reais, e aumentando a probabilidade de você como investidor realizar uma “saída’ lucrativa.

Foque no prêmio grande da sua saída futura

Shark Tank Brasil fornece ótimos exemplos do que não fazer ao investir em startups. Ao exigir um pedaço enorme da startup enquanto ela está apenas iniciando seu trajeto de crescimento, o investidor anjo perde a noção do incentivo principal de se investir em startups.

A sua meta como investidor deve ser de posicionar seu portfólio de startups para receber retornos potencialmente enormes, que provém de participações saudáveis em startups com potencial de se tornar empresas milonárias ou até bilonárias no futuro.

Para permitir que essa história aconteça, deve-se manter uma visão do longo prazo e entender exatamente o que é necessário para uma empresa conseguir isso.  É esse grande prêmio no final do caminho que faz com que investir em startups seja uma atividade tão interessante.

 

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