Em 2021, o mercado de investimentos em startups e empresas privadas viveu um momento desconectado dos padrões do mercado. As ofertas de investimento aconteciam uma atrás da outra, os valuations eram inflados e muitos investidores usavam uma “estratégia de alocação” (você já vai entender o porquê das aspas) pouco adequada às particularidades dessa classe de ativo.

Para se ter leve uma ideia, o patrimônio financeiro do investidor pessoa física alcançou R$7,3 trilhões em 2024, um crescimento de 12,6% sobre o ano anterior.  Dentro dessa cifra, os ativos alternativos vêm conquistando espaço, ampliando sua presença nas carteiras e sinalizando um apetite crescente por diversificação além da renda fixa. Quem sabe ler as entrelinhas do mercado entende o que isso significa.

Quatro anos depois, a história mudou completamente. De 2024 para 2025, sendo mais específico, essa modalidade ganhou uma nova roupagem, e os mesmos critérios antes aplicados em outras classes de ativo passaram a compor o que, hoje, se entende como boa prática para investir nesse produto.

O investimento em empresas privadas deixou de ser visto como uma aposta e passou a compor a mesma conversa de alocação patrimonial que envolve FIPs, FIIs etc. Em termos práticos, o investidor começou a entender que se trata de uma oportunidade de diversificação de portfólio.

Venture capital em números: seletividade e cheques maiores

Depois da euforia de 2021, os anos de 2022 e 2023 marcaram uma fase de correção. A retração de liquidez expôs fragilidades, reduziu o ritmo de captações e obrigou muitas empresas a revisar fundamentos antes de buscar novos aportes.

Em 2024, o mercado de venture capital tomou novas proporções. As startups brasileiras captaram R$ 9 bilhões, um crescimento de 17% sobre 2023. Apesar da queda no número de rodadas, observou-se um aumento no valor médio dos cheques e maior seletividade dos fundos. Ou seja, menos transações e maior rigor.

Esse ajuste ganhou força no início de 2025. Entre janeiro e abril, as startups levantaram R$ 4,8 bilhões, volume 48% acima do mesmo período do ano anterior. O padrão se manteve: capital concentrado em menos empresas, agora mais exigentes quanto a eficiência operacional, governança e clareza de tese. As que adiaram suas ofertas para melhorar indicadores retornaram ao mercado em condições mais sólidas, com valuation mais ajustado e maior atratividade para o investidor.

Quem investe em startups hoje: fundos, CVCs e investidores individuais

Hoje, o capital que sustenta o mercado de investimentos em startups e empresas privadas vem de uma base mais diversificada do que no passado. Os investidores institucionais, tanto fundos de venture capital quanto CVCs, têm seu papel de destaque — mas há uma mudança importante acontecendo quando olhamos o papel do investidor pessoa física nas estatísticas. O investimento via plataformas online (reguladas pela CVM), cada vez mais, tem se mostrado como um vetor para a consolidação desse mercado.

Plataformas de Investimento em startups se expandem no mercado

Casos como o da Sustineri Piscis, que captou R$ 8,74 milhões em uma única rodada na EqSeed, exemplificam a nova escala do instrumento. Essa diversificação de fontes de capital fortalece o mercado. De um lado, fundos institucionais e corporativos financiam empresas em estágios mais avançados; de outro, o investidor pessoa física acessa empresas em fases iniciais via plataformas reguladas, com aportes a partir de R$ 5 mil. Sempre reforço que, há poucos anos (e são poucos anos mesmo), isso era impraticável. O investidor comum, o advogado, o engenheiro, o médico, tendo acesso regulado a empresas de alta qualidade, num ambiente 100% digital e regulado? Era, de fato, impensável. Mas, isso mudou!

Liquidez em startups: fusões, aquisições e novos mercados

A liquidez sempre foi o principal desafio do investimento em startups no Brasil. Sem conhecimento dos eventos de liquidez, o investidor pessoa física tendia a enxergar o venture capital como algo distante. Em 2025, esse quadro começa a mudar. O número de fusões e aquisições envolvendo startups avançou de forma consistente. Em 2024, foram 191 operações, um crescimento de cerca de 30% em relação a 2023.

No primeiro trimestre de 2025, já se contabilizavam 53 transações, alta de 35% frente ao mesmo período do ano anterior. Mais relevante que o volume é a mudança no perfil dos compradores. Se antes as grandes corporações lideravam a maioria das aquisições, hoje as scale-ups também utilizam M&A como estratégia para incorporar concorrentes, expandir mercado e acelerar crescimento. Estudos apontam que 86% das empresas compradoras planejam novas aquisições nos próximos 12 meses, reforçando a expectativa de continuidade desse movimento.

O efeito para o investidor é direto, e ele passa a ver esses eventos de como engrenagem natural do ciclo de venture capital. Isso fortalece a percepção das startups como classe de ativo legítima dentro de uma carteira diversificada.

Mercado secundário: a parceria entre EqSeed e B3

O cenário de liquidez também está para mudar. Junto à B3, a EqSeed também está preparando o lançamento de sua plataforma de transações subsequentes. O ambiente, com previsão de ser lançado nos próximos meses, permitirá que investidores negociem sua participação em empresas privadas dentro de uma estrutura digital, organizada e regulada sob as normas da Resolução CVM 88/22.

A tecnologia por trás da solução será baseada na tokenização de ativos, viabilizando que os contratos de investimento emitidos nas captações primárias possam ser convertidos em tokens negociáveis em um mercado secundário controlado. A liquidação será feita via PIX, com controle de titularidade e rastreabilidade de todas as transações, o que adiciona segurança, praticidade e transparência ao processo.

A parceria reforça o compromisso de ambas as instituições com a democratização do mercado de capitais e o fortalecimento do ecossistema de empresas privadas no Brasil, em linha com o que já se vê em mercados como o do Reino Unido e Estados Unidos.

Selic em 15%: a disciplina imposta pelo custo de capital

O contexto macroeconômico de 2025 aumentou o rigor do mercado. Com a Selic em 15% ao ano, o custo de oportunidade do capital está no nível mais alto em quase duas décadas. Para o investidor, isso significa que ativos ilíquidos, como startups, só se justificam quando oferecem uma boa perspectiva de retorno. Esse patamar de juros elevou a régua das captações — e trouxe uma consequência positiva: valuations mais baixos e ajustados à realidade.

É o contraponto direto a 2021, quando rodadas em sequência inflaram preços sem conexão com fundamentos. Hoje, o funil é mais rigoroso: apenas empresas sólidas conseguem atrair capital. São negócios com eficiência comprovada, modelo de crescimento validado e liderados por empreendedores que se destacam em seus setores — muitos deles com atuação internacional.

Na EqSeed, os valuations relativos das companhias também foram reajustados, criando pontos de entrada mais atrativos para o investidor e reforçando a dinâmica de disciplina que rege o mercado atual. Ao mesmo tempo, o perfil das empresas também evoluiu: são companhias relevantes em seus mercados, capazes de competir em escala e de sustentar a confiança de investidores que desejam diversificar seu portfólio com startups.

Startups na alocação patrimonial do investidor

O ciclo iniciado em 2021 com excesso de liquidez e valuations inflados deu lugar, em 2025, a um mercado de venture capital mais disciplinado e cada vez mais integrado ao mercado financeiro tradicional. O resultado é um ambiente mais maduro, em que startups se consolidam como classe de ativo legítima, ainda que de risco elevado, mas com potencial de multiplicação de capital e geração de liquidez por diferentes caminhos. Se o investidor já diversifica suas carteiras com fundos de participação, crédito estruturado e imóveis, por que não considerar as startups como parte dessa mesma arquitetura de portfólio?

Se você quer saber mais sobre o investimento em startups, confira o artigo em que detalhamos todo o processo: