Pandemia causou o menor índice de recuperações em três anos; volume volta a crescer em 2021

12 milhões de famílias brasileiras estão endividadas atualmente. O dado alarmante é da Confederação Nacional do Comércio, Bens, Serviços e Turismo (CNC), que faz esse acompanhamento há 11 anos — e esse é o maior número registrado em todo o período. São 74,6% dos núcleos familiares do país com dívidas a vencer em questão de meses, seja por meio de cartão de crédito, cheque especial, crédito consignado ou outros tipos de financiamento ou empréstimos.

Com as dívidas, surge a inadimplência. Essa é uma consequência que também apresenta dados preocupantes: de acordo com o SPC Brasil, mais de 60 milhões de consumidores estão registrados em cadastros de inadimplência no país. Dentre eles, cerca de 60% afirmam possuir dívidas com mais de uma empresa.

Isso se traduz em uma taxa de recuperação de crédito de aproximadamente 13%, segundo pesquisa do Banco Mundial. Em outras palavras, a média de dívida para cada brasileiro inadimplente é de R$1.512. O resultado do somatório em todo o país chega a R$600 bilhões. O Brasil é um dos países com as piores taxas de recuperação de crédito. Apenas US$0,13 são recuperados a cada US$1,00 emprestado. A média mundial é de US$0,34.

Existem diversos motivos que atrapalham a recuperação de crédito dos cidadãos atualmente. Um dos principais é a inflação, com o consequente aumento da taxa básica de juros (Selic) e de todas as outras taxas. Torna-se bem mais complicado para as pessoas terem dinheiro para quitar suas dívidas quando a taxa está alta e o acesso a crédito é dificultado. Desde outubro de 2021, a Selic ficou definida em 7,75% ao ano, sendo a quinta alta consecutiva.

Consumidores querem regularizar sua situação

Apesar da atual piora do cenário, é importante frisar que as pessoas querem sair da inadimplência e que, geralmente, fazem isso assim que possível. É o que mostra o Indicador de Recuperação de Crédito da Serasa Experian, lançado este ano.

A análise mostra a jornada de crédito e ajuda a identificar padrões. Os dados mais recentes, de abril de 2021, mostram uma recuperação de 51% de dívidas que foram ressarcidas em até 60 dias a partir deste mês de referência. O setor com maior percentual de dívidas quitadas foi o de Utilities, com 63,8%. O período de 60 dias foi estabelecido por ser o mais comum entre as soluções de cobrança, mas o tempo de quitação varia para cada credor, dentro desse espaço.

O indicador mostrou também  que a idade da dívida tem um efeito considerável sobre a probabilidade de pagamento. “Considerando compromissos que estavam vencidos há 30 dias, 64,4% foram recuperados; de 30 a 60 dias, 44,6%; de 60 a 90 dias, 31,4%; de 90 a 180 dias, 23,7%; entre 180 dias e o primeiro ano, 26,4%; e 15,7% entre um e mais ano”, aponta a instituição.

Tecnologia agiliza cobranças e pagamentos

Milhares de empresas pelo país estão conseguindo lutar contra o cenário generalizado de inadimplência ao adotar soluções tecnológicas para seus processos de cobrança. Aos poucos, isso vem mudando a situação do país como um todo — e explica a recuperação de metade das dívidas, como acabamos de ver, mesmo em um momento de crise e alta de juros. Segundo o SPC, quase 50% dos consumidores inadimplentes já utilizam algum tipo de meio digital para renegociar suas dívidas

Ainda assim, falta bastante para que a grande maioria das empresas tenha sistemas de cobrança novos, mesmo que os métodos mais tradicionais se mostrem cada vez menos eficazes.

A carta, por exemplo, foi o meio utilizado por 64% dos credores em um estudo realizado pelo Serasa e divulgado em novembro deste ano. Essa maneira de cobrar também foi apontada como a menos eficaz. A que trouxe melhores resultados foi o SMS, com eficiência de 63,7% — porém utilizada em apenas 7,8% das cobranças. Muitas vezes, a falta de um banco de dados sobre os devedores é o que impede a utilização de meios digitais.

Plataformas e softwares geralmente contam com a solução para esse problema. Eles auxiliam na gestão de devedores e fazem um papel de organização que as empresas “analógicas” não possuem. Além de concentrar os dados e permitir mais abordagens, isso significa também que a digitalização reúne informações específicas e permite que, assim, cada devedor possa ser atendido de forma personalizada.

Os grupos de perfis de inadimplentes são variados e exigem ações diferenciadas para potencializar os resultados. Isso diz respeito tanto ao modo como a comunicação deve acontecer quanto ao canal escolhido para estabelecer contato.

Para além da organização por si só, estão surgindo plataformas que aplicam outras tecnologias no processo de cobrança e otimizam toda essa comunicação, ao mesmo tempo em que reduzem custos da empresa credora. Alguns exemplos globais são a TrueAccord e a InDebted, e exemplos brasileiros são o Meu Acerto e a Credigy — essa última adquirida no final de 2020 pela MGC Holding. Depois da aquisição, ela se tornou a terceira maior em recuperação de ativos.

Os novos recursos inseridos no mercado incluem negociação das dívidas diretamente pela plataforma (via chat ou aplicativo), histórico de acordos, chatbots com inteligência artificial, ofertas de descontos a partir de algoritmos, machine learning para otimização da IA, entre outros.

A tecnologia tem muito a oferecer para melhorar o cenário de recuperação de crédito no Brasil. De um lado, temos credores que precisam reaver seus débitos e, do outro, milhões de brasileiros que querem se livrar das dívidas. Com o aprimoramento da relação entre as duas partes, é bem provável que exista uma mudança positiva nos próximos anos.

Projeção de crescimento do mercado

sucesso das diversas plataformas virtuais já está provando que as soluções estratégicas com base em tecnologia vêm dando certo. A partir da análise de perfil, os resultados se tornam ainda melhores.

Vale mencionar, também, que os fundos de crédito privado já demonstram uma boa recuperação depois das quedas provocadas pela incerteza da pandemia. Como credores têm prioridade em relação a acionistas, o investimento em crédito atualmente oferece uma boa perspectiva.

Portanto, há um grande potencial de crescimento na área. Não falta muito para que o Brasil use ainda mais plataformas digitais de cobrança, com novas técnicas e meios para minar a inadimplência. A ajuda da tecnologia é o que, muito provavelmente, mudará a realidade atual de recuperação de crédito.