Artigo originalmente publicado no DCI

Empresas querem se apresentar como opção ao modelo tradicional de venture capital

Um ano após a regulamentação do equity crowdfunding, modalidade de financiamento coletivo que permite ao investidor comprar participação societária em empresas, as plataformas que atuam nesse modelo avaliam que a aprovação por parte da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) foi positiva. Para o segmento, a iniciativa deu maior segurança tanto para investidores como para as empresas, o que possibilitou o crescimento que as principais plataformas projetam para este ano.

Essa modalidade de investimento é acessível ao investidor pessoa física, que se torna sócio de startups e empresas em expansão ao realizar aportes. O modelo permite que um conjunto de investidores financie empresas em troca de participação nelas.

Atuando desde 2014, a pioneira no Brasil foi a Kria, novo nome do antigo Broota. A plataforma ampliou o limite total que cada empresa pode receber em aportes para R$ 5 milhões, o máximo anual permitido na regulamentação. O número de companhias listadas no site para receber aportes é de cerca de oito por mês atualmente, contra uma média de duas até 2017.

Seis meses após ser a primeira plataforma a ter seu registro concedido pela CVM, a EqSeed ampliou o limite de captação de R$ 600 mil para R$ 2 milhões e quer se colocar como uma opção de financiamento para empresas nascentes em estágio mais avançado.

Para o fundador da plataforma, Greg Kelly, o principal benefício foi a maior segurança que a regulamentação passou para os investidores. “Nosso grande problema era a incerteza sobre o negócio. Tanto empresas como investidores estão e se sentem mais seguros agora”, afirma.

O contexto da explicação de Kelly é que sua empresa foi a primeira a se adequar à regulação da CVM. O registro concedido pela Comissão em janeiro deu aval para a EqSeed atuar formalmente como plataforma de equity crowdfunding, que permite o investimento coletivo em participações em empresas de pequeno porte, geralmente startups.

Os empreendedores com dificuldade em obter crédito ou simplesmente com necessidade de levantar capital para algum projeto usam a EqSeed com esse objetivo. Nela, as empresas anunciam quanto querem captar em troca de uma participação societária. Por exemplo, numa rodada de R$ 1 milhão em troca de 20% de participação, cada investidor que aportar R$ 100 mil teria direito a 2% do capital societário da companhia em questão.

Esse processo era mais complicado antes do registro concedido pela CVM. Cada proposta era submetida individualmente à Comissão. Agora, como é registrada no órgão regulador, a própria EqSeed conduz as ofertas e, a cada seis meses, presta contas para a Comissão.

Opção ao venture capital

Fundador do Kria, Frederico Rizzo acredita que a ampliação na captação de recursos permitida para as startups tornará o equity crowdfunding uma opção aos investimentos série A. Esse tipo de aporte é feito em empresas nascentes mais maduras, ou seja, aqueles que acontecem depois de investidores anjo e de capital semente (seed) e costumam ser de, no mínimo, R$ 2 milhões.

Em março, a pioneira neste mercado mudou seu nome de Broota para Kria num reposicionamento de marca. “Paramos de ter foco no nosso canal de captação para focar em outros agentes de captação”, explica. Rizzo diz que a startup já fez parcerias com três fundos de investimentos para eles usarem sua plataforma ao investir em startups.

Como benefícios desse tipo de investimento, ele cita a agilidade e o fato de ser um dinheiro “mais barato”, já que os termos são definidos pelos empreendedores e não pelos fundos de investimento. “Vai ser uma opção a mais para esse tipo de empresa, mas não vai substituir o dinheiro tradicional dos fundos”, pondera.

Ao investir numa empresa nascente, é comum um fundo de investimento liderar a rodada, ou seja, ter a maior parcela de capital do valor total. Com as parcerias, ao utilizar o Kria esses fundos conseguirão encontrar de forma mais fácil outros coinvestidores e finalizar de maneira mais rápida uma negociação com os empreendedores.

Crescimento

Segundo Greg, da EqSeed, o número de investidores está numa tendência crescente neste ano. São 13 mil usuários cadastrados na plataforma, entre pessoas físicas e jurídicas, sendo que 500 já fizeram algum tipo de investimento nas empresas.

O tíquete médio de cada aporte subiu para R$ 15 mil, com previsão de chegar a R$ 20 mil até o fim do ano. O valor mínimo para cada investimento varia de acordo com a rodada de captação, mas fica entre R$ 3 mil e R$ 5 mil.

Embora não revele o valor, Rizzo espera que o Kria dobre o faturamento neste ano. Isso porque o número de startups disponíveis para captação está subindo em ritmo acelerado, assim como os valores recebidos. Há 1.200 investidores ativos entre 40 mil cadastrados na plataforma, com tíquete médio de R$ 8 mil por pessoa.

Para o fundador da EqSeed, um benefício de sua plataforma é que ela agiliza o tempo dos investidores. “Eles não precisam ficar analisando as empresas. Menos de 1% das empresas foram aprovadas [para receber investimento], isso demoraria muito para o investidor”, diz Greg ao se referir ao processo no qual muitas empresas são descartadas.

Os investidores recebem relatórios trimestrais das investidas e é comum existir uma conferência a cada semestre com os donos das startups, para o acompanhamento dos negócios.

Nesse tipo de aporte, o investidor abre mão de receber um valor garantido, como num fundo de renda fixa ou mesmo na poupança, em troca da possibilidade de receber um alto retorno no médio ou longo prazo.

A monetização da EqSeed se dá na cobrança de uma taxa de 10% do valor de todas as captações finalizadas e 10% do lucro bruto dos investidores quando eles realizam a saída, ou seja, a venda de sua participação.

Em 2016, primeiro ano de operação da plataforma, duas startups conseguiram captar investimento por meio da EqSeed. Em 2017 foram oito, e a expectativa é que até janeiro de 2019 dez companhias consigam levantar capital pela plataforma, e com elevação do tíquete médio no período.

O Kria, que já intermediou quase 60 captações, com valor total de R$ 18,6 milhões, cobra uma taxa de 7% do valor captado pelas empresas, mas também há uma taxa que cada empresa paga para receber investimentos na plataforma. Do lado dos investidores, não há nenhuma cobrança.