As logtechs, startups que aplicam tecnologia de maneira inovadora na cadeia de logística, vêm ganhando cada vez mais atenção no mercado de fusões e aquisições e de investimentos. De acordo com um estudo realizado pela Distrito, o valor investido nesse mercado brasileiro – só em 2020 – foi de US$187,6 milhões. E essa popularidade não surgiu do nada: a pesquisa mostra que se trata de uma tendência crescente há algum tempo. Desde 2011, foram US$1,3 bilhão investidos em mais de 100 rodadas.

Startups com foco em logística resolvem uma série de problemas que o mercado nacional enfrenta, ajudando aos poucos a tirar o país da posição 56 no ranking do Índice de Desempenho Logístico (LPI) do Banco Mundial. Elas podem atuar em qualquer parte da cadeia logística, mas o objetivo é sempre agilizar e/ou reduzir custos a partir da tecnologia.

Com o sucesso das novas soluções, essas empresas acabam chamando a atenção de grandes players. Magazine Luiza, B2W, VTEX, Mercado Livre e Via Varejo são alguns dos nomes que investiram em startups do setor nos últimos anos, especialmente em 2020. 50% das aquisições do ano passado foram realizadas por essas grandes varejistas.

A estratégia por trás dessas compras é se manter altamente competitiva e fomentar inovações dentro da empresa, garantindo os primeiros lugares na corrida por melhorias. No caso do Magazine Luiza, por exemplo, está sendo criado um ecossistema com várias frentes de negócio — razão pela qual foram adquiridas 21 empresas só em 2020. É um planejamento similar ao da Amazon. Investimento em tecnologia e novas ideias é essencial para ter resultados nessa caminhada.

O que as logtechs trazem de novo?

Seja ao facilitar a identificação de pacotes, gerenciar o estoque ou oferecer uma nova opção de coleta e retirada, essas startups trazem ao mercado soluções de alto valor. No geral, os maiores diferenciais são: tirar as operações do manual, adicionando recursos tecnológicos que mudam totalmente o modo como as empresas atuam; e reduzir as taxas de insucesso na entrega, garantindo que as encomendas cheguem ao cliente final, no menor tempo possível, o que hoje, é uma vantagem competitiva decisiva em um mercado altamente competitivo como o do varejo. Segundo a Abralog, o Brasil perde em média $ 9 bilhões de dólares por ano com a falta de eficiência e modernização do seu setor logístico.

A variedade de soluções é uma grande razão para que esse setor esteja em alta crescente. Existem startups que oferecem sistemas inteiros de gerenciamento e outras que trabalham com foco em entregas por aplicativos, na administração de galpões para armazenamento,  entre tantas outras possibilidades. Todas elas partem do conceito de Indústria 4.0, que engloba tecnologias de automação, Big Data, Internet das Coisas (IoT), robótica avançada, inteligência artificial, machine learning, computação em nuvem, manufatura aditiva, integração de sistemas e digitalização. Em outras palavras, todos esses recursos podem ser aplicados de diferentes maneiras. Muitos são utilizados em conjunto nos WMS, ou Warehouse Management Systems.

Como dito anteriormente, a logística envolve operações complexas, então há muitas maneiras de inovar. As dificuldades estruturais do Brasil também colaboram para que a criatividade seja importante, visto que as complicações são variadas entre locais do país, modais de transporte, tipo de carga, recursos humanos etc. Não é incomum que uma virada no varejo exija também novas soluções logísticas.

Galpões, por exemplo, estão em alta agora por conta do sucesso do e-commerce, que traz a possibilidade de venda para todo o país. Centros de distribuição precisam ser construídos em locais estratégicos para que as entregas não fiquem muito caras ou demoradas. Por isso, estima-se que pelo menos R$6 bilhões estão em curso nos investimentos em desenvolvedoras de galpões.

A tecnologia de controle por radiofrequência RFID (Radio-Frequency IDentification) também possui bastante destaque. Ela permite a captura automática de dados para identificação, complementando o uso do código de barras. As vantagens incluem redução de desperdício e de roubos, aumento de produtividade e melhor gerenciamento de inventários.

Vale ressaltar que a própria digitalização é um avanço para muitas empresas que ainda estão presas a processos manuais. Nesse contexto, os softwares de gestão são os mais necessários. Os diferenciais entre eles é que ganham destaque no mercado. Para ilustrar: em um estudo do Software Path, fica claro que mais de 90% das empresas buscam por um WMS baseado na nuvem, ao invés de servidor próprio. Também foi descoberto que o principal motivo para ir atrás de um WMS é o suporte de crescimento. Isso indica a preferência por sistemas com boa capacidade de escalabilidade e ligados à nuvem. Logo, esses são alguns dos fatores que aumentam as chances de sucesso de um software de gestão.

A Pegaki e outros casos de sucesso do mercado de logtechs

É impossível falar desse tipo de startup sem mencionar iFood e Loggi, que captaram respectivamente US$591,9 milhões (sete rodadas) e US$295 milhões (cinco rodadas). São casos fora da curva, mas mesmo se forem retirados do panorama geral, é possível ver o crescimento constante do mercado.

Além de casos como de unicórnios no mercado de logtechs, também há os de early exit, ou seja, aquelas startups que foram vendidas em pouco tempo e deram retorno rápido aos investidores. É o caso da Pegaki, que captou R$1,660 milhão em três rodadas ao longo de 2016 e 2018, duas pela Eqseed. Em 2021, foi adquirida pela Intelipost, líder no mercado, e promoveu retorno rápido aos investidores da base da EqSeed.

A startup trouxe um conceito inovador para a logística brasileira com os pontos de retirada e coleta, também conhecidos como PUDOs (do inglês Pick Up & Drop Off). Com eles, os clientes podem retirar suas mercadorias em locais credenciados, o que reduz drasticamente as taxas de insucesso e torna o processo mais prático e menos custoso para todos os envolvidos. É um modelo com base em economia compartilhada e ganha cada vez mais adeptos ao redor do mundo. No Brasil, a Pegaki já possui mais de 2000 pontos registrados e planeja alcançar 20 mil nos próximos anos.

Alguns outros nomes importantes da última década e seus aportes são:

  • CargoX – US$177,8 mi;
  • Modern Logistics – US$65 mi;
  • Fretebras – US$17,9 mi;
  • Delivery Center – US$16,1 mi;
  • Cobli – US$15 mi;
  • Mandaê – US$11,3 mi;
  • Opentech – US$4,9 mi;
  • Sontra Cargo – US$3,6 mi.

Esses são só os brasileiros. Se pensarmos no cenário global, temos cases de sucesso como o Keep Truckin, dos Estados Unidos, que recebeu o investimento total de US$227,3 milhões; ou, ainda, o gigante Gojek, unicórnio operante na Ásia que recebeu aportes do Google, Facebook e Visa, entre outras.

Crescimento do mercado é destaque na mídia

Em matéria recente no Valor Econômico, diversos investimentos no setor foram destaque, trouxemos alguns:

  • A GLP — maior empresa do segmento de galpões com atuação no país — captou fundo de R$2,63 bilhões para investir em ativos de alto padrão no raio de 30 quilômetros da cidade de São Paulo. Do total, R$1,48 bilhão já foi desembolsado. Os aportes restantes serão feitos nos próximos quatro anos;
  • A Goodman Brazil Logistic Partnership (GBLP) tem dois projetos adicionais em aprovação. Se as licenças forem obtidas até setembro, os R$540 milhões previstos inicialmente para 2021 serão acrescidos em até 50%;
  • A Prologis Brazil Logistics Venture (PBLV) — joint venture formada pela americana Prologis com a gestora canadense Ivanhoe Cambridge — aprovou investimentos de R$790 milhões.

Devo investir em logtechs?

É um fato que as grandes empresas estão impulsionando suas estratégias de coleta, transporte e entrega. Da gestão de galpões ao delivery, todas precisam participar da corrida logística. Para isso, a tendência é apostar em aquisições de startups com bons resultados e potencial. As logtechs são procuradas por acelerarem o processo e implementarem inovações que os grandes players nem imaginaram. Portanto, em uma busca por exits bem-sucedidos, esse tipo de startup faz todo o sentido.

O Brasil possui dimensões continentais, exigindo um trabalho nessa área especialmente complexo. Atualmente, como grande parte das entregas fica a cargo dos Correios, existe bastante espaço para crescimento das iniciativas privadas. É um mercado particularmente escalável, tanto por essas questões próprias da logística quanto pelo sucesso crescente do e-commerce.

Pensando em tendências, vale ficar atento ao uso de IoT na gestão de ativos; micro-fulfillment e warehousing on demand (para uso de todo espaço no armazenamento); lockers em centros urbanos como opção de entrega; blockchain; integração facilitada entre diferentes setores com um WMS; entre tantas outras.

Investir em logtechs é pavimentar o caminho para inúmeros avanços logísticos no Brasil e no mundo. O melhor é que esse é um cenário já reconhecido e aprovado no mercado, o que significa que as chances de saídas (antecipadas ou não) são altas. Logo, teremos um ecossistema de logística mais econômico, rápido e eficaz, com apoio de cada investidor e cada startup dedicados a mudar as coisas.