O agronegócio segue crescendo. No cenário da Covid, ele é um dos principais atores responsáveis por reduzir o impacto da pandemia no Brasil e poderá ser protagonista na retomada da economia no país.

Em meio a pandemia, o agronegócio segue forte e em ritmo de crescimento enquanto muitos outros setores como, turismo, hotelaria e imobiliário, viram suas taxas de crescimento e projeções serem afetadas negativamente pelos próximos anos. Com crescimento de 1,9% frente aos meses anteriores, o setor da agropecuária foi o único setor que teve resultado positivo no PIB do primeiro trimestre de 2020. Estima-se que o valor gerado no campo até o final do ano seja de R$ 697 bilhões. De acordo com dados da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), o agronegócio no Brasil corresponde hoje a mais de 20% do PIB brasileiro, o que equivale a R$ 1,55 trilhões de reais. O campo é também um grande gerador de postos de trabalho, empregando 1 a cada 3 brasileiros. De acordo com a PNAD/2015, dos mais de 90 milhões de trabalhadores brasileiros, cerca de 30 milhões estão no agronegócio.

 

Os fatores que contribuem para o crescimento do agronegócio

Existem dois principais fatores que explicam esse crescimento: a alta nas exportações e a safra recorde. Alguns produtos como, soja, farelo de soja, carne bovina, carne suína e algodão, bateram recordes de exportação nos 4 primeiros meses do ano, tendo a Ásia como principal destino e correspondendo a cerca de 47% do que foi embarcado. Este número representa um crescimento aproximado de 15% se comparado ao mesmo período de 2019. É esperado que a safra de grãos atinja um número recorde neste ano, chegando até a marca de 250 milhões de toneladas. Dentre os produtos que mais se destacam, a soja tem um papel especial, com estimativa de produção de 121 milhões de toneladas.

Outro fator que vem impulsionando o setor é uso de tecnologia. Estamos presenciando um momento de transformação digital no campo brasileiro. É nesse cenário, que as Agtechs, empresas que fornecem soluções e serviços tecnológicos para habilitar e otimizar safras agrícolas e hortícolas, vem ganhando espaço considerável. Um dado interessante da consultoria MB Agro ilustra o ganho trazido pelo uso da tecnologia. De acordo com a MB Agro, na safra entre 2008 e 2009, a produção de grãos no país foi de 135 milhões de toneladas, correspondendo a uma área plantada de 42,79 milhões de hectares. Já na safra entre 2018 e 2019, a área plantada subiu para 49,7 milhões de hectares, um acréscimo de 16,3%. Mas olhando em termos de produção, o salto foi gigantesco. De 135 milhões de toneladas para 240 milhões de toneladas, um avanço de 78%.

De acordo com o Tracxn Feed Report, entre 2018 e 2020, o setor de Agtech viu surgirem no mundo: 12 unicórnios (empresas que são avaliadas em mais de 1 bilhão de dólares), a emissão de 153 ofertas públicas mobiliárias (IPOs) e mais de 23 bilhões de dólares em investimento de empresas do segmento. Agricultura de precisão, Blockchain, Internet das Coisas (IoT), Inteligência Artificial (I.A.) e Análise preditiva são algumas das soluções que estão revolucionando a maneira com que o os produtos saem do campo diretamente para as casa dos brasileiros.

 

Panorama geral sobre o agronegócio

O Brasil é um dos maiores produtores de alimentos do mundo. Como consequência, o país tem uma forte atividade exportadora, ocupando o terceiro lugar em exportação mundial de alimentos e o segundo lugar na lista dos maiores exportadores do mundo de alimentos industrializados.

Segundo dados da empresa de inteligência de mercado Neoway, destacados no Relatório Distrito – AGTECH Mining Report – 1º semestre 2018, o setor agropecuário representa 3,3% na distribuição setorial de empresas no Brasil.

 

distribuicao setorial de empresas no brasil - agronegócio

 

Grande parte dessas empresas, cerca de 80%, estão concentradas na Região Sudeste do país.

Apesar do número de empresas ser aparentemente modesto, a relevância que este grupo tem para o PIB nacional é considerável. De acordo com estimativas da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), a contribuição do agronegócio para o PIB brasileiro passou da marca de 20% em 2019. É importante ressaltar que os critérios para o cálculo do PIB do agronegócio utilizados pela CNA são diferentes dos critérios utilizados pelo IBGE. Este último não considera a indústria de alimentos, por exemplo.

Os principais produtos da agropecuária brasileira em volume de produção:

 

 

As principais características nacionais que trazem complexidade e oportunidades apontadas pelo Radar Agtech Brasil 2019 são:

  • Maior biodiversidade de flora e fauna do planeta;
  • Grande variedade de solos;
  • Variedade de climas e microclimas;
  • De 2 a 3 colheitas/ano contra apenas 1 em climas temperados;
  • Maior impacto de erosões em áreas tropicais em virtude da alta incidência de chuvas;
  • Ocorrência de pragas, doenças e ervas específicas de clima tropical.

Mesmo com grande importância no PIB nacional, ainda existem muitas oportunidades para o desenvolvimento do agronegócio no país. Em seu último relatório sobre o setor Agtech divulgado pelo Distrito, dois pontos importantes são destacados:

  • A baixa utilização de tecnologia da informação. De acordo com o relatório, o setor do agronegócio representa apenas 2% deste mercado;
  • O grande desafio para que o agronegócio brasileiro mantenha seu caráter inovador, competitivo e sustentável em um cenário de crescimento da demanda por alimentos. Considerando o crescimento populacional projetado pelas Organização das Nações Unidas (ONU), estima-se que a população global atingirá a marca de 7 bilhões de pessoas em 2050. A tecnologia aplicada ao agronegócio será de suma importância para garantir o sustento da população através de um melhor gerenciamento da produção e consequentemente, o aumento da produtividade.

 

As projeções para o agronegócio no Brasil

projeções agronegócio brasil

 

De acordo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), a produção de grãos deve crescer em torno de 27% nos próximos anos. Isso significa passar de 250 milhões para cerca de 318 milhões de toneladas nas safras de 2029 e 2030, uma taxa de 2,4% ao ano. Neste mesmo estudo, é previsto que a área plantada cresça dos atuais 65,5 milhões hectares, para 76,4 milhões de hectares, representando um aumento de 17% na área plantada total e acréscimo anual de 1,6%.

 

area plantada agronegócio brasil

 

O aumento da produtividade, alavancada pelo uso cada vez maior de tecnologia, será o principal fator no crescimento da produção de grãos na próxima década. Isto fica claro na comparação entre as projeções de produção versus área plantada, que respectivamente serão de 27% contra 17%.

Três tendências são observadas ao analisar os dados da produtividade:

  1. Redução de mão de obra ocupada;
  2. Redução da área plantada devido aos ganhos de produtividade da terra;
  3. Aumento do uso de capital.

O uso da tecnologia no campo será o driver da produção, ultrapassando os fatores terra e trabalho.

 

Tendências para o agronegócio

Um país com a participação relevante no cenário agropecuário internacional como o Brasil precisa aplicar as otimizações trazidas pelas empresas de tecnologia na agricultura nacional.

A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), fez um mapeamento das grandes tendências globais e nacionais sobre as transformações na agricultura, com destaque para:

  • Mudanças socioeconômicas e espaciais na agricultura;
  • Intensificação e sustentabilidade dos sistemas de produção agrícolas;
  • Mudança do clima;
  • Riscos na agricultura;
  • Agregação de valor nas cadeias produtivas agrícolas;
  • Protagonismo dos consumidores;
  • Convergência tecnológica e de conhecimentos na agricultura.

Segundo o mapeamento da Embrapa, 2018, essas tendências indicam que existe um relevante mercado demandante de novas tecnologias agrícolas que poderão auxiliar no enfrentamento dos desafios impostos ao setor agropecuário, considerando as perspectivas para o futuro. O relatório indica como oportunidades aparentes para o setor:

  • Crescimento do investimento privado para inovação agrícola e novas tecnologias;
  • O desenvolvimento de uma segunda revolução digital com aumento da capacidade de processamento;
  • Barateamento dos sensores e surgimento de novas tecnologias interconectadas com uso amplo;
  • Novas biotecnologias;
  • Acesso a dados agronômicos em grande quantidade, os quais podem ser usados para apoiar práticas em decisões.

Por fim, a aplicação de inovações tecnológicas no setor agropecuário, envolverão equipamentos agrícolas, uso de dados estatísticos como informações meteorológicas e mapeamentos de solo, melhoramento genético, fertilizantes, técnicas de gestão da fazenda dentre outros. Com isso, os produtores de pequeno ou grande porte poderão gerenciar melhor todo o seu processo produtivo, da compra dos insumos, passando pelo controle de pragas e otimização do uso de recursos, até a distribuição do produto ao consumidor final.

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