Artigo originalmente publicado na Segurança Eletrônica

Solução utiliza inteligência artificial embarcada para realizar voos autônomos e transmissão de vídeo em tempo real para segurança perimetral

A Aeroscan é uma startup lançada recentemente no mercado focada na utilização de drones para a segurança perimetral. Com uma plataforma de gerenciamento completa, a empresa decidiu captar investidores por meio de um financiamento coletivo e em menos de três dias conseguiu arrecadar R$ 850 mil. A meta agora é firmar parcerias com empresas de segurança patrimonial e com integradores do mercado de segurança para implantação da solução em projetos. Para falarmos mais sobre esse assunto, conversamos com Marco Forjaz, sócio e cofundador da Aeroscan.

Revista Segurança Eletrônica: Como surgiu a Aeroscan?
Marco Forjaz:
 A Aeroscan nasceu em 2018, fruto de uma parceria minha com o Marcelo Musselli. O Marcelo, que é sócio e fundador da empresa, já atuava no mercado de drone na área de mapeamento. Ele tinha a ideia de automatizar drones para o segmento de segurança, realizando transmissões de imagens ao vivo por meio de voos automatizados, tudo isso com inteligência artificial. Como tínhamos uma ligação por termos famílias próximas, juntamos o conhecimento dele neste mercado e a minha experiência em empreender – me formei na FGV com MBA voltado para gestão de negócios e empreendedorismo e atuei na área de tecnologia voltado para hotelaria, um setor muito forte em serviço, e assim começamos a empresa em uma sala de 70m² em Alphaville, São Paulo.

Antes de começarmos, fizemos um estudo completo desse mercado, das plataformas e das soluções, tudo voltado para o segmento de segurança. Para tirar o projeto do papel, o Marcello Moreira se juntou ao time, como responsável pela programação da plataforma. Começamos a desenvolver alguns drones autônomos, a plataforma foi tomando corpo, e algum tempo depois já estávamos iniciando os primeiros projetos em clientes.

Revista Segurança Eletrônica: Como foi esse começo de fazer os investimentos iniciais para dar o “start” na empresa?
Marco Forjaz:
 Acredito que o momento mais difícil para um empreendedor é essa fase inicial. Nós sócios tivemos que abdicar de muitas coisas para o negócio começar, desde vender nossos bens, como carros e apartamento, até como conduzir o envolvimento da família, porque o processo afetou a todos, psicológica e financeiramente, é uma aposta que precisa de resiliência. A nossa sorte é que nossa família sempre acreditou no projeto e nos apoiou ao longo da nossa trajetória.

Também tivemos muita dificuldade de conseguir investimentos externos porque todos os investidores interessados queriam primeiro ver a solução funcionando em um cliente real, por isso começamos a aparecer mais para o mercado, na tentativa de conquistar clientes.

Ao longo desse processo, batemos muito a cabeça para desenvolver um drone próprio, mas não tínhamos recursos necessários para isso, então decidimos trabalhar com a linha de drones da DJI (maior fabricante de drones do mundo) e focarmos exclusivamente no desenvolvimento da nossa plataforma, que é a solução que realmente agrega no mercado. O business é a plataforma, é ela que traz a inteligência para o drone.

Revista Segurança Eletrônica: Como conseguiram os primeiros clientes?
Marco Forjaz: 
A grande sacada foi participarmos da feira ISC Brasil de 2019, montamos um estande na área de startups. O resultado da feira foi muito positivo para nós. Lá conhecemos o Gianlucca Piva de Oliveira da Cushman & Wakefield e fizemos com ele uma parceria de risco: ele disse que aplicaria a solução em seu projeto, mas só se estivesse funcionando perfeitamente. Como sempre acreditamos na nossa solução, aceitamos o desafio e esse foi nosso primeiro contrato importante. Nós implementamos a nossa plataforma sem custo e deixamos rodando por 30 dias, eles ficaram super felizes e satisfeitos e firmaram o negócio. Inclusive, esse case rendeu o “Prêmio ABRAFAC Melhores do Ano de 2020” para a Cushman & Wakefield. O projeto vencedor foi “O uso de drones no gerenciamento de propriedades”, na categoria Gestão Imobiliária e Propriedades.

Coincidentemente, no mesmo período concedemos uma entrevista muito bacana para a Pequenas Empresas & Grandes Negócios, o que nos deu maior visibilidade.

Outro grande passo também foi nos tornarmos primeiro membros do CT Segurança e no final de 2020 expositores. Essa parceria tem aprimorado nossas conexões e nos aproximado dos profissionais de segurança do mercado.

Revista Segurança Eletrônica: Vocês conseguiram firmar parcerias com integradores?
Marco Forjaz: 
Como não viemos desse setor, começamos a buscar cada vez mais entender todo o mercado de segurança. Começamos a falar em vender a licença da plataforma, mas o setor não estava pronto para isso, eles não tinham drones e muito menos sabiam colocar a aeronave em operação. Diante desse cenário, percebemos que tínhamos que mudar o nosso business de uma empresa que vende licenças da sua plataforma para uma empresa de serviços, já que não tinham a estrutura ideal para nos receber. Começamos a procurar alguns integradores, mas não tivemos muita abertura, a maioria estava receosa, então percebemos que nesse primeiro momento teríamos que ir ao cliente final direto e construirmos cases, e assim o integrador poderia ver o valor da nossa solução.

É interessante ficar claro que não oferecemos o serviço na ponta, porque quem executa é a segurança patrimonial, são eles que possuem o vigilante, operador e porteiro. Nós fazemos um trabalho de parceria com a segurança patrimonial que está no local, sendo que o foco nunca é tirar o vigilante e substituir por um drone, é uma combinação de aprimorar a entrega tecnológica para o cliente e melhorar a qualidade de segurança do serviço prestado. O drone voa de forma automatizada em uma rota preestabelecida, se acontecer uma intercorrência e o drone precisa ir até o local, quem vai dizer o que deve ser feito é o operador, por isso é um casamento do homem e da máquina, não é uma substituição, precisamos do homem para decidir as situações.

Conforme fomos conquistamos mais clientes, começamos a ter mais credibilidade no mercado e passamos a ter mais relacionamentos importantes.

Revista Segurança Eletrônica: Desde a sua formação, a Aeroscan já tinha em mente abrir a empresa para receber investimentos externos. Esse processo requer uma preparação, como foi esse trabalho?
Marco Forjaz:
 Desde o começo tivemos um plano de negócio completo, com uma apresentação explicando para onde queríamos seguir e o que alcançar. A parte jurídica também foi bem preparada, sabíamos que mais para frente iríamos transformar a empresa em S.A. (Sociedade Anônima).

A maior decisão foi escolher o perfil de investimento que queríamos. Se escolhêssemos um investidor grande, poderíamos ser desvalorizados e correríamos o risco de perder o negócio a médio prazo. Se descidíssimos por uma aceleradora de startups, conseguiríamos um investimento maior, mas sairíamos com um compromisso grande de resultado também.

Depois partimos para a ideia de reunir 20 amigos interessados em fazer um aporte na empresa, mas de novo não achamos que seria a melhor opção, por envolver pessoas muito próximas.

Contratamos então um advisor (conselheiro), para poder olhar o nosso negócio e intermediar algumas negociações de investidores, caminhou bem, ajudou bastante em um determinado momento, mas também não encaixou, não era o que a gente queria. Foi então que nos apresentaram as plataformas de equity crowdfunding (financiamento coletivo) e decidimos abrir essa conversa com a Eqseed e outra plataforma do setor. Essa segunda empresa fez um valuation (processo de avaliar o valor da empresa) de R$ 5 milhões, não era o que queríamos, estávamos pensando em R$ 13 milhões em uma projeção de 5 anos. Então conversamos com a Eqseed, que acreditou mais na Aeroscan; passamos por cinco entrevistas apresentando o que já tínhamos feito, o que esperávamos, quanto iríamos crescer, e fizeram um valuation de R$ 9 milhões. A Eqseed nos deu um prazo até dezembro de 2020 para decidirmos se abriríamos o capital da empresa ou não. Esse momento foi outro risco que corremos, porque se não atingíssemos o valor determinado de arrecadação, a nossa chance seria perdida, só poderíamos tentar novamente depois de meses. Decidimos arriscar e abrir para investimento.

Enviamos toda a documentação necessária e mudamos o valuation para R$ 8,5 milhões. No mesmo momento decidimos mudar o escritório para um local maior, que conseguíssemos testar o drone. Dentro do planejamento de risco, negociamos seis meses sem pagar aluguel com o proprietário e investimos R$ 130 mil na reforma com recursos dos sócios. Também naquele momento contratamos mais pessoas para poder estruturar a empresa e realmente mostrar para o mercado que a Aeroscan está pronta para atender em 2021 todos os integradores e todo o mercado.

Nossa campanha foi lançada no dia 31 de dezembro de 2020 na plataforma da Eqseed, no dia 04 de janeiro de 2021 abrimos para receber investimento e três dias depois a captação encerrou, porque já tínhamos conseguido todo o recurso. Foi surpreendente! Ao todo foram 64 investidores que acreditaram no potencial da Aeroscan.

Com esse acontecimento, fomos a primeira empresa do setor de segurança a abrir equity crowdfunding no mercado e bater a meta em tão pouco tempo.

Revista Segurança Eletrônica: Agora que o investimento deu certo, quais são os próximos passos?
Marco Forjaz:
 Queremos criar uma relação forte com os canais, investir muito na nossa tecnologia. Estamos contratando novos desenvolvedores para melhorar a plataforma, assim ela passará de uma ferramenta que faz o gerenciamento do drone automatizado para uma plataforma que também faz a gestão da própria operação e do operador, com logs de voos, alertas, aprimorando da inteligência artificial, integração com todos os players de mercado de VMS, etc.

Também desenvolvemos a integração com uma solução body cam (câmera de corpo) para fazer a parte de controle em tempo real do segurança.

Resumindo, o investimento maior será na plataforma, na solução como um todo, pensando em base automatizada, em carregamento para deixar a solução sem processo manual e o investimento na área de marketing, queremos nos comunicar com os 26 mil integradores do mercado.

É nesse ponto que tem um peso grande a nossa parceria com o CT Segurança, porque ele é um agregador desse perfil de empresa. O CT consegue nos conectar de forma rápida, até para alcançar a escala que projetamos no business plan que foi o que motivou as pessoas investirem na Aeroscan, ou seja, para eu conseguir entregar aquilo que eu prometi, que levou as pessoas acreditarem no nosso de negócio, eu preciso crescer rápido e executar o resultado que eu prometi.

Ter essa área de canais estruturada e de forma veloz, gerando resultado para gente e pro integrador é a chave do nosso sucesso. Por isso estamos imprimindo bastante velocidade desde janeiro para conseguir ter isso rápido, os projetos instalados rapidamente, a empresa de segurança ganhando dinheiro com isso e o cliente final se beneficiando do resultado. Temos que garantir essas três partes já no fim do primeiro trimestre porque é o nosso primeiro report para esses novos acionistas. Já começamos bem, com o mês de janeiro com o resultado previsto.

Revista Segurança Eletrônica: E como está a segurança desses processos?
Marco Forjaz:
 Estamos em uma doutrina, que inclusive foi uma das primeiras ações que fizemos antes do Eqseed, foi blindar a empresa, tanto nas práticas de compliance como também do contexto legal, então já estamos integrados com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados), dessa forma conseguimos atender o mercado de forma correta. Se estamos no mercado de segurança como nós não vamos ter segurança? Contratamos uma consultoria jurídica especializada na LGPD, fizemos melhoria nos nossos processos, segurança dos dados e das informações que temos dos nossos clientes e dos operadores. Acredito que sejamos a primeira empresa de drone a ter esse compliance. É sempre bom procurarmos práticas de excelência para outras empresas se espelharem e seguirem o mesmo caminho.

Revista Segurança Eletrônica: Quais as novidades da plataforma para 2021?
Marco Forjaz:
 Estamos lançando a segunda versão da plataforma, que irá trazer muito mais recurso para a solução. Como o Marcelo é da parte técnica, ele pode explicar melhor.
Marcelo Musselli: A nova versão da plataforma vem para automatizar mais ainda os processos. A ferramenta emite relatórios diários enviados para os gestores, totalmente colaborativo, com as evidências, ocorrências e todo o histórico, desde a hora que o vigilante entra no trabalho até a hora que ele sai. Além disso, fornecemos auditoria completa das operações. Uma das principais dores desse nicho é conseguir auditar o vigilante, é saber se as rondas não estão sendo burladas, se de fato a ferramenta está sendo utilizada como foi contratada, se o tempo e os horários de ronda previstos foram executados ou não, etc. Todas essas informações dão uma segurança grande para o gestor, ele sabe de fato o que ele está contratando e quanto ele está pagando.

Nesta versão também teremos a melhoria da visualização das operações, assim os clientes que possuem mais de uma planta vão poder, através de um único lugar, acessar as operações das plantas, os drones, as notificações, tudo em tempo real, conversar com os operadores e todas as pessoas poderão acessar essas informações com níveis hierárquicos de informação.

Além disso, toda a parte de inteligência artificial também terá uma nova tela para podermos ter acurácia e assertividade na hora de configurar o que de fato vai ser detectado na inteligência artificial.

Também teremos o dashboard da operação com informações completas, com gestão de baterias, otimização de custo para o meu cliente e para o cliente do meu cliente, pois conseguimos entender as falhas dos equipamentos e quando os erros acontecem, para que antes deles acontecerem nós possamos entrar em ação. Também há um status informando sobre a saúde dos equipamentos, no drone, por exemplo, sabemos como está a hélice, o motor, a bateria e a câmera, e se o equipamento está fazendo todas as missões de forma correta e conseguindo entregar de fato o que precisamos.

Revista Segurança Eletrônica: Como foi o ano de 2020 para a Aeroscan em um cenário de pandemia?
Marcelo Musselli: 
2020 foi muito difícil para todos, a pandemia do coronavírus interrompeu as relações sociais e exigiu um distanciamento entre as pessoas, e infelizmente a demanda e receita das empresas de segurança patrimonial caíram muito e essas companhias optaram por uma diminuição de custo, reduzindo o número de pessoas na equipe para poder ter caixa e conseguir enfrentar os desafios daquele momento.

Na contramão dessa situação, a Aeroscan registrou um crescimento que não esperávamos, porque a nossa solução com drone pode se aproximar de pessoas – respeitando a lei – e o equipamento passou a fazer o trabalho, trazendo mais inteligência e efetividade operacional, pois depois que as empresas começaram a voltar com o ritmo quase normal, o equipamento tinha entregado muito naquele curto período de tempo, e as empresas decidiram manter a solução e incrementar ainda mais.

Vale destacar que o mercado de segurança é formado por pessoas, por isso este é o momento de quebrarmos paradigmas e trazer mais inteligência, automação e velocidade na tomada de decisão para atender a todas as ocorrências da segurança perimetral.