Artigo originalmente publicado no jornal A Tarde.

FINANÇAS – Startups que querem atrair investidores precisam, antes de mais nada, estruturar e profissionalizar a gestão do negócio

Ter uma grande ideia não é mais sinônimo de sucesso no mundo dos negócios, principalmente quando se fala em startups.Isso porque essas empresas, com modelo de negócio repetível, precisam buscar investimento de interessados pelo produto ou serviço. Na Bahia, em 2017 foram mapeadas 110 empresas desse tipo e cerca de 30 receberam investimento,segundo dados da Associação Baiana de Startups (Abastartups).

“O que vale mesmo é a execução,a validação e a aplicação no mercado. Tem que resolver um problema real”, analisa
Eduardo Lobo, presidente da Abastartups. Ele ressalta que, para conseguir despertar o interesse dos investidores, é preciso desmistificar que a ideia é o mais importante. O advogado Marcos Resende concorda. Para ele, as startups precisam se estruturar, profissionalizar a gestão e então procurar investidores. “É como se tivesse que ter uma transformação de dentro para fora no negócio”, diz.

Também fundador de uma startup, Eduardo e os quatro sócios estão à frente da QRPoint, uma plataforma de gestão inteligente da jornada de trabalho. “O nosso software faz não só um controle operacional do registro de ponto, mas uma gestão completa do RH, para aproveitar toda informação de todos os funcionários”, conta o sócio Gabriel Soares, explicando que a proposta é entregar mais que informação e auxiliar nas decisões do RH.

Para Eduardo, em Salvador o mercado ainda é incipiente em relação a outras cidades, mas tem melhorado muito, principalmente com o fomento do Sebrae e Senai-Cimatec. “Para conseguir investidores, é importante participar do ecossistema de startups e das ações promovidas por ele, onde estarão os investidores em busca de algo potencial para colocar o seu dinheiro”, explica.

O i4sea surgiu como uma empresa de consultoria ambiental, e no meio do caminho os quatro oceanógrafos perceberam que podiam criar um produto que faltava no mercado. A startup faz previsões assertivas sobre a condição do mar e do tempo para contribuir com a eficiência do setor portuário, informando quais variáveis vão influenciar no navio,com o objetivo de eliminar incertezas relacionadas ao impacto da natureza no setor.

Mateus Lima conta que o caminho para o desenvolvimento do produto foi entrar no processo de validação da ideia do Senai Cimatec, e em 2016 conseguiram o financiamento do Sebrae para desenvolver o mínimo produto viável (MVP). Com isso, eles passaram a buscar investidores e conseguiram com uma empresa paulista. “O processo de negociação levou cerca de um ano, e conseguimos R$ 829 mil”, diz.

Caminhos diferentes

Também há casos daqueles que procuram por investidores, mas não conseguem. É o que aconteceu com a startup baiana que desenvolve aplicativos, sites e sistemas, a República Interativa. Donjorge Almeida conta que inicialmente eles criaram o Futsaap, um aplicativo com informações sobre futebol, participaram de eventos, passaram por rodadas de investimento, mas não chegaram a fechar com nenhum. “Existe um protocolo muito grande, e o processo é bem complicado”, diz.

Após esse processo, os sócios criaram a República Interativa e decidiram tentar um outro método de investimento, mas também não foi bem-sucedido. Donjorge acredita não ter conseguido os investimentos pela falta de diferenciação
do seu produto. Já existiam outras coisas parecidas no mercado e a gente tinha que avançar muito, acabou
não indo para frente nesse sentido”, diz. No entanto, a empresa existe hoje com investimentos que os próprios sócios fizeram e vai bem.

De acordo com Gabriel, existe uma diferença do valor de investimento necessário, com base nas análises de quanto a empresa vale e quanto o investidor irá oferecer. “Inicialmente tentamos abrir algumas rodadas de investimento em torno de R$ 300 mil e no final percebemos que era um valor correto de mercado, mas, em virtude da ausência da cultura
de investimento em startup em Salvador, tivemos muita dificuldade em reunir investidores interessados e fechamos com um investimento de R$ 180 mil”, conta.

Percebendo toda essa dificuldade, a EqSeed, uma plataforma que conecta investidores com startups, que têm que passar por um processo de seleção rigoroso, mas têm mais chances de conseguir investimento de forma mais rápida e eficiente. Até hoje foram 16 rodadas concluídas e o investimento médio é de R$ 15 mil, mas pode chegar a R$ 200 mil. “Para ser selecionada, a empresa tem que ter alta escalabilidade e ser inovadora, ou seja, encontrar novas formas de se fazer negócio”, explica o sócio-fundador Brian Begnoche.

PARA CAPTAR INVESTIMENTOS

DEFENDA A IDEIA – Esteja pronto para defender seu plano de negócios e ter os aspectos contábeis, fiscais, financeiros e negociais em mãos.

BUSQUE SUPORTE – A empresa pode precisar de suporte em outras áreas. Se não souber desempenhar as atividades, busque um profissional.

ENTENDA A LINGUAGEM – É preciso entender os documentos e contratos dos investimentos.

FONTE: Marcos Rezende, advogado

* SOB A SUPERVISÃO DA EDITORA CASSANDRA BARTELÓ