Crescimento de 30% em 2020 reflete o interesse do consumidor por alimentação saudável

Ao longo dos últimos anos, a procura por produtos orgânicos vem crescendo, como alternativa aos alimentos com agrotóxicos, que são mais facilmente encontrados em mercados. Em 2020, indo na contramão da crise gerada pela pandemia, o setor cresceu 30%, chegando a faturar R$5,8 bilhões, informa a Associação de Promoção dos Orgânicos (Organis).

O sucesso crescente desse mercado tem a ver com a busca por uma alimentação mais saudável e sustentável, algo que parte da população e acaba refletindo no comércio, que se adapta para atender às demandas. Do supermercado até a feira local, é difícil não ver ao menos uma seção de orgânicos.

No ano passado, outro fator acelerou o progresso: soluções digitais. Com o isolamento social, tudo que pode ser feito online ganhou destaque, bem como o delivery — que se tornou presente de forma constante no mundo todo. Segundo a agência de estudos Statista, estima-se que o setor de entregas movimentará até US$6,3 trilhões globalmente até o final de 2021.

O mercado de orgânicos sempre foi um aliado da saúde. O digital trouxe mais acessibilidade a essa gama de produtos pela população, que vem cada vez mais se preocupando com uma alimentação saudável.

Expansão do mercado de orgânicos

O crescimento da área de produtos orgânicos não surgiu agora. A Organis aponta que, em 2019, o aumento foi de 15% em relação ao ano anterior. No período de 2017 a 2019, segundo a Statista, o faturamento foi de R$3,5 bilhões para R$4,6 bilhões.

Há, ainda, a perspectiva da produção nesse avanço. Em sete anos, de 2012 a 2019, a quantidade de produtores orgânicos cadastrados no Ministério da Agricultura triplicou: de 5.934 para 17.730. Atualmente, o número ultrapassou os 24,6 mil.

Esses dados, além de deixarem clara a repercussão que o setor já estava causando antes da pandemia, também demonstram a capacidade de suportar altas demandas. O diretor da Organis, Cobi Cruz, contou para o Portal Agrolink que essa realidade rebate os preconceitos de que a produção orgânica não conseguiria sustentar uma procura maior.

Essa afirmação faz sentido com o aumento de 5,4% de novas unidades de produção em 2020, um valor bem menor do que os 30% a mais na receita. Ou seja, os produtores que já estavam no mercado foram capazes de absorver grande parte do impacto.

Tecnologia e delivery: mecanismos aliados para uma alimentação mais saudável

A facilidade de pedir pela internet e receber em casa chegou também no mercado de orgânicos. Diversas empresas ao redor do mundo perceberam que esse era o pedaço faltando na logística do pequeno produtor para o consumidor.

No modo tradicional, os produtos passam por muitos intermediários antes do cliente final. Eles são processados, enviados a atacadistas, em seguida ao varejo e só então chegam às casas. Com plataformas digitais especializadas e com uma boa gestão logística, é possível reduzir o processo drasticamente.

Um exemplo de sucesso, e que traz essa solução, é a foodtech Misfits Market, nos Estados Unidos. Em apenas três rodadas, a startup captou mais de US$300 milhões, sendo US$200 milhões só na mais recente série C. A empresa recebeu o título de “melhor box de produção [orgânica] para economizar” pelo CNET.

Outro caso é o do Imperfect Foods, que deixa claro desde o nome a ideia por trás da marca. Para evitar desperdício, a startup trabalha com produtos que seriam desconsiderados pelos pontos de venda tradicionais por não terem a melhor aparência, apesar de estarem em perfeito estado alimentar. O valuation da empresa passou de US$700 milhões.

O sucesso dessas iniciativas se baseia no foco na qualidade de vida, sustentabilidade e na economia de dinheiro e tempo para o consumidor. Sem intermediação, os custos diminuem, bem como o impacto ambiental.

Tendências

O estudo da Organis sobre o consumo de orgânicos em 2019 mostra que os maiores impedimentos para que o mercado cresça ainda mais são, justamente, os que as plataformas digitais retiram. Ou seja, elas estão explorando um mar de oportunidades.

43% das pessoas entrevistadas que ainda não consomem produtos orgânicos afirmam que é por conta do preço. 21% têm dificuldade em encontrá-los. São duas situações cujas resoluções fazem parte da proposta do delivery.

As regiões que mais consumiram, segundo a pesquisa, foram o Sul, o Nordeste e o Sudeste do país, respectivamente. No Brasil todo, dos 36% que consomem orgânicos, o fazem cinco vezes por semana.

Para 2021, a Organis estima conservadoramente um crescimento de 10% do setor, tendo em mente as incertezas do cenário econômico. Ainda assim, o valor pode aumentar, inclusive com o crescimento do comércio online.

Em suma, a demanda de produtos orgânicos vem crescendo há anos, e se destacou especialmente em 2020. Dentro desse segmento, as plataformas digitais de delivery entraram com muito potencial no ecossistema de produção. Com a agilidade online e popularidade das entregas em casa, uma parcela cada vez maior do público parte para o consumo de orgânicos sem intermediários.

Com isso, cria-se a perspectiva de um mercado ainda maior de orgânicos no futuro, em que a compra da produção poderá ser feita antes do plantio, acelerando a economia e melhorando preços e prazos de pagamento. Se o setor continuar progredindo como está atualmente, esse futuro é provável — e não tão distante.