Em julho de 2021, Wall Street listou um nome brasileiro: trata-se da VTEX, startup que oferece soluções em comércio eletrônico via tecnologia SaaS. Fundada no Rio de Janeiro há 20 anos, a empresa se tornou um unicórnio (valuation superior a US$ 1 bilhão) e abriu capital na NYSE (New York Stock Exchange). Após o IPO, foi avaliada em US$ 3,6 bilhões, garantindo múltiplos retornos para os investidores, que  incluem um fundo do SoftBank.

A empresa carioca e investidores venderam 19 milhões de ações a um preço unitário de 19 dólares, valor acima do prospectado inicialmente, entre 15 dólares e 17 dólares. Além disso, a precificação do papel foi de aproximadamente 22 vezes a receita estimada para o ano que vem, o que evidencia o quão bem-sucedida foi a operação. 

Atualmente, a multinacional está presente em mais de 32 países e conta com uma carteira de mais de dois mil clientes – entre eles Sony, Walmart, Whirlpool, Coca-Cola, Stanley Black & Decker, AB InBev, Nestlé.

Ao todo, essas empresas venderam quase US$ 8 bilhões no ano passado por meio das plataformas de comércio digital desenvolvidas pela VTEX. Esse alto volume de vendas é resultado do relacionamento que vem sendo construído com consistência ao longo dos anos, mas é inegável o impacto da pandemia. Diversos dados de mercado comprovam que o e-commerce cresceu muito de 2020 para cá. Segundo a consultoria italiana Finaria.it, o número de usuários de comércio eletrônico aumentou 9,5% na comparação anual em meio ao surto de Coronavírus e atingiu mais de 3,4 bilhões em 2020. A tendência de aumento deve continuar este ano, crescendo 10%, para 3,8 bilhões.

A história da VTEX

Em junho de 2000, Geraldo Thomaz e Mariano Gomide tinham acabado de se formar em Engenharia Mecânica pela UFRJ quando decidiram desenvolver um software (B2B)para melhorar a indústria têxtil. A ideia surgiu ao perceberem que o sogro  de Geraldo, dono de confecção em Macaé, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro, tinha que ir todo mês à São Paulo para pegar os pedidos nas indústrias. A dupla se questionou por que isso não poderia ser negociado pela web e identificou uma oportunidade de negócios. Assim nascia a Vitrine Têxtil, que futuramente viria a ser Vtex. 

Após os primeiros desafios, a empresa encontrou o espaço que tornou viável sua escala nos anos seguintes: o e-commerce. Em 2007, a empresa se tornou fornecedora da plataforma de e-commerce para o Walmart no Brasil, o que foi decisivo para o negócio. Desde então, a VTEX não parou de crescer. 

As soluções evoluíram e, hoje, o SaaS oferece uma visão de comércio unificado, das lojas físicas às virtuais, do marketplace ao B2B. A integração da loja física com virtual tornou-se necessária para a sobrevivência no varejo e a empresa aproveitou sua expertise para conquistar o mercado internacional. Dessa forma, hoje, a VTEX é a maior referência da área na América Latina, com cada vez mais protagonismo também no mercado europeu e norte americano.

Aportes e aquisições de startups

Ao longo dos anos, a VTEX recebeu uma série de rodadas de investimentos. Os mais recentes são os mais vultosos: em novembro de 2019, uma união entre Softbank, Constellation e Gávea Investimentos viabilizou um aporte de US$140 milhões na VTEX. Já em 2020, em uma rodada de investimento série D liderada pelo fundo Tiger Global com participação da Lone Pine Capital, a VTEX recebeu US$ 225 milhões, valor que a colocou no seleto grupo de unicórnios brasileiros.

Ao longo da jornada, boa parte desses investimentos foi direcionado para estratégias de fusões e aquisições, o que acelerou o crescimento da empresa em diversas frentes. Alguns exemplos de nomes adquiridos ao longo dos anos são a Loja Integrada (2013), XTech Commerce (2017), Ciashop (2019), dLieve (2020) e Suitshare (2021). Cada uma trouxe um novo aspecto a ser incorporado no produto final.

É interessante, inclusive, destacar que muitos empreendedores que venderam suas empresas para a VTEX permanecem na companhia e conseguiram participar de uma empreitada maior por meio da venda. A Xtech Commerce foi vendida por R$14 milhões três anos após sua fundação, e o fundador Alfredo Soares seguiu como vice-presidente institucional. A dLieve viveu cinco anos antes de ser transformada em VTEX Tracking, e o dono Patrick Rocha também ganhou o título de vice-presidente no novo acordo. Ambos agora fazem parte de um unicórnio e participaram do IPO da empresa na Bolsa de Nova York a partir de um movimento de aquisição.

E se você tivesse investido na VTEX?

Vamos fazer um exercício de imaginação e cálculo: Você entrou na rodada de Series A da VTEX (2012). Como essa rodada não teve seus valores divulgados, vamos estimar que foi um aporte de 15 milhões de reais por 15% da participação societária. Nesse caso, o valuation da empresa já seria de 100 milhões de reais.

Fazendo parte dessa rodada, você adquiriu 0,015% da Startup, o que representa um investimento de 15 mil reais.

Após esse aporte, a VTEX passou por outras três rodadas de investimento e, de forma conservadora, você optou por não exercer seu direito de preferência em nenhuma delas. 

Como as duas primeiras rodadas não tiveram seus valores divulgados, vamos estimar que em cada uma delas, 15% da empresa tenha sido adquirida. Em relação a terceira rodada, pelos valores divulgados, a diluição foi de aproximadamente 13,24%

Em Julho de 2021 a VTEX abriu capital na Bolsa de Nova Iorque, caracterizando o Exit da empresa.

Qual seria o seu retorno?

Com a diluição da sua participação, no momento do Exit (2021), você teria 0,0094% da empresa.

Com isso, você teria 2,92 Milhões de reais, o equivalente a um retorno de 15.183,7% no período, o que resultaria em um retorno de 71,9% ao ano.

Sendo assim, seu retorno teria sido de 152,84 vezes o valor investido em um prazo de aproximadamente 9 anos.

O caso da VTEX é um exemplo consistente da consolidação do mercado de investimento em startups.

# Essa análise leva em consideração o período do Series A da VTEX (2012) até a oferta pública realizada na Bolsa de Nova Iorque (2021). Como as informações disponibilizadas sobre os eventos é limitada, houve a simulação de um cenário estimado. Grande parte dos valores tem como referência o Dólar, para sua conversão foram utilizadas as últimas cotações das datas dos eventos. #