No quinto episódio do podcast Na Linha de Frente, Rafael Marino, CMO da EqSeed, entrevistou Laio Santos, Head da Rico.com.br. Entre os assuntos conversados, um dos pontos centrais foi a importância de uma cultura organizacional bem estabelecida, principalmente no cenário de pandemia do COVID-19.
Basicamente, vivemos a maior crise sanitária e econômica da história desde o pós-guerra e, invariavelmente, as empresas vão precisar de solidez para superar esse momento. Mas como exigir solidez de uma startup, cuja natureza é de franca ascensão e mudança? Pois bem, uma dessas raízes, ou talvez a principal, seja a cultura organizacional da empresa.
Desse tema macro, se desdobraram outros recortes muito interessantes na conversa:
- Como estabelecer essa cultura?
- Qual é o papel da comunicação nesse processo?
- Qual é o perfil profissional que se dá melhor e inspira todo o time em momentos de crise como esse?
- Como essa realidade se aplica às startups, cujo modelo de negócio e operação são diferentes das empresas tradicionais?
O Head da Rico.com.br resumiu muito bem o processo de construção de cultura: “há duas alternativas de cultura no ambiente corporativo: ou ela te absorve ou ela te expele”. Neste contexto, Laio acredita que a construção da cultura depende tanto da empresa, como dos colaboradores que ali estão. Quando há coesão de objetivos, a cultura floresce.
Uma das startups que exemplifica muito bem esse conceito é o Banco Neon, que em 2018 passou por uma grave crise institucional. Criada originalmente com o nome de Contro.ly, a fintech fez uma parceria com um banco e passou a ser o Banco Neon. No entanto, o parceiro foi liquidado pelo Banco Central e o patrimônio de todos os clientes no Neon foi bloqueado. Para reverter o quadro, diretoria e todos os funcionários da Fintech passaram três dias em pleno vapor para encontrar um novo parceiro, foram flexíveis e se adaptaram na situação de crise. Seguindo o propósito de trazer um banco que facilitasse a vida dos clientes, o Neon achou outro parceiro e é hoje um case de sucesso.
De acordo com Laio, é importante agir com velocidade, mas isso só é possível se tudo começa com a transparência na comunicação. Para o executivo, o surgimento de ruídos interfere nas operações, pode atrapalhar uma equipe ou, em larga escala, toda a empresa. Por isso, é determinante que os líderes conversem constantemente de forma clara e assertiva com as equipes, que as metas estabelecidas sejam claras e, que caso existam problemas, que eles sejam de conhecimento de todos envolvidos. Só assim é possível evoluir.
Uma forma de ser transparente e ter uma comunicação ágil são os Daily Mettings, um método de reuniões que visa passar para o time tudo o que foi feito no dia anterior e quais as metas do dia em, no máximo, 15 minutos. Essa é uma metodologia que visa organizar mais a equipe e otimizar a colaboração entre os membros da empresa. Em tempos de pandemia, é possível fazer isso também, via programas de reuniões online, como o Hangouts ou Teams, por exemplo.
Sob este guarda-chuva de uma comunicação ágil e transparente, Laio citou três características-chave que norteiam não somente a ele, mas todo time e a cultura da Rico.com.br:
- Pessoas que fecham os gaps – Para o executivo, é louvável e de grande capacidade aqueles profissionais que enxergam as falhas da empresa. Mas o que diferencia um profissional e uma empresa é sua capacidade de preencher e resolver esses gaps. Isso porque o que determina o sucesso não só de um indivíduo como profissional, mas da companhia como um todo, é a sua capacidade de resolver problemas, e não apenas de identificá-los. Na EqSeed, esse valor que é praticamente um mindset, foi batizado de “EqSeed the expectations”, já que o time busca sempre evoluir e atingir resultados cada vez melhores. De acordo com Laio, para isso é preciso de uma equipe coesa e que verdadeiramente queira ser cada dia melhor, sem pessoas que danifiquem essa forma de agir. “A última coisa que eu preciso é contratar um reclamão. Quando você contrata, pode até não saber. Mas quando você demite, sabe exatamente quem é a pessoa”, afirma o Head.É claro que querer resolver problemas não é suficiente, existem métodos que permitem que isso seja feito com mais eficiência. No livro “Extreme ownership: how US Navy SEALs lead and win” (ainda sem tradução), de Jocko Willink e Leif Babin, os autores trazem dicas de como a força de elite da Marinha dos EUA são capazes de vencer sob qualquer circunstância. Uma delas é dar autonomia para as unidades. Atuando em territórios e cenários negativos, longe dos líderes, é importante que as unidades não se sintam dependentes na hora de resolver os problemas. O time deve se sentir responsável por capaz de tomar suas próprias decisões.
- Pessoas humildes – indivíduos com esse perfil tendem a se comunicar melhor, porque vêem as coisas de uma maneira muito simples, mesmo as questões mais complexas. Isso facilita o caminho da solução. Pessoas que não são humildes tendem a estabelecer uma comunicação truncada, que cria ruídos. “Quando você leva uma informação até essa pessoa, ela adiciona algum contexto negativo”, pontua Laio.
- Pessoas que aprendem rápido e com mente aberta – essas pessoas conseguem absorver conceitos que não estão nos livros. Muitas vezes, o mercado exige soluções personalizadas e específicas, já que a vida das pessoas não vai ser resolvida porque um determinado profissional leu os mesmos livros que seu ídolo.
De maneira resumida, Laio entende que esse tripé sustenta uma cultura organizacional, já que esses valores contemplam pessoas com vontade de evoluir. “Vou dar um exemplo prático. Imagine que você abra 70 mil contas e esse número é ótimo. Precisamos de pessoas que saibam que isso é ótimo, mas que pensem: ‘como eu posso aumentar isso?’ Elas estudam, se dedicam e sabem que podem melhorar. Infelizmente, existem aquelas pessoas que olham o resultado ótimo e deixam no automático. Esse é o erro”, avalia.
Em larga escala, comportamentos positivos se disseminam, e uma vez que cultura é construída no convívio, floresce o que chamamos de cultura organizacional.
Mas e agora, com todos em casa, como isso tende a funcionar? A verdade é que o momento é delicado e não há uma fórmula.
As empresas mais modernas, como é o caso das startups, nascidas na era digital, teoricamente tem vantagem sobre modelos mais tradicionais, avessos à tecnologia. Elas devem ser ágeis, não procurar desculpas e sim buscar soluções digitais para contornar o problema causado pelo isolamento. Se a cultura da startup for bem estabelecida, se ela for realmente forte, a equipe seguirá trabalhando a pleno vapor, buscando saídas para crescer, mesmo em um cenário negativo.
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