A digitalização no mercado da educação vai muito além do ensino à distância como o conhecemos. As mudanças que o mundo digital provocou na sociedade atravessam todos os aspectos humanos e não seria diferente em uma área de tamanha importância. 

Novas soluções são necessárias para novos problemas. O interesse por modelos educativos inovadores já é evidente há algum tempo, mas ficou ainda mais claro com a pandemia, que mostrou que é preciso mais do que uma transmissão de vídeo ao vivo para fazer jus à aprendizagem. O que não significa que o EAD é um problema por si só, já que, segundo o Mapa do Ensino Superior no Brasil 2021, o ensino à distância cresceu 19,1% em 2019, mesmo antes que se tornasse uma alternativa obrigatória. Ou seja, a tecnologia é um bom apoio à educação, desde que bem aplicada. 

Simultaneamente, muitos estudos estão surgindo ao redor do mundo sobre aprendizagem passiva e ativa, geralmente chegando à conclusão de que o modelo passivo está perdendo espaço. Nisso, inclui-se a forma com a qual a maioria das pessoas está acostumada a ter aulas: assistir ao professor e ler.

A resposta para unir esses dois pontos — aparentemente soltos — é o que as edtechs vem oferecendo. Com tecnologia, surgem possibilidades de novos modelos. O ensino pode ser mais interessante, promover mais engajamento e até ser mais econômico ao mesmo tempo. Por isso, as startups que percebem e propõem soluções desse tipo estão ganhando atenção rapidamente.

Quais são as inovações das edtechs

As ideias criadas pelas edtechs são variadas, ainda que sempre se baseando no uso da tecnologia. Em alguns casos, o modelo digital por si só revolucionou o mercado.

No Brasil há dois exemplos de sucesso. O primeiro é o Descomplica, que foi fundado com cursos preparatórios totalmente online, agora oferece também pós-graduações e possui cerca de 5 milhões de usuários mensais. O sucesso foi reconhecido em grande escala; em fevereiro de 2021, a plataforma recebeu um aporte de R$450 milhões, valor encabeçado pelo Invus Group e o SoftBank.

Outro exemplo é QConcursos, também 100% digital e com foco no ensino para concurseiros e vestibulandos. Em junho deste ano, a startup foi comprada pela Yduqs, uma das maiores holdings de capital aberto de ensino superior no país.

Essas soluções já abriram portas e mostraram que há bastante procura por ensino no mundo digital, não apenas EAD como uma extensão de universidades tradicionais. Mas há quem vá além disso, oferecendo também recursos que vão de videoaulas até atividades interativas, jogos, quizzes, testes e demais opções especializadas para cada objetivo do aluno.

Essas edtechs estão fazendo a união mais estreita entre tecnologia e aprendizagem ativa.

Funcionalidades ativas

Os principais conceitos por trás das edtechs mais inovadoras são gamificação e interatividade. São modelos ativos que fazem sucesso ao redor do mundo e se mostram cada vez mais como uma alternativa para o modelo de ensino tradicional (passivo).

A Kahoot é um caso de gamificação que deu extremamente certo. Trata-se de uma plataforma que usa o formato de jogo de perguntas para ensinar e engajar. Os padrões podem ser de múltipla escolha, dissertativos, quebra-cabeças, imagens e mais. Também há variações a serem usadas em ambiente de trabalho ou mesmo em casa, incluindo a criação de competições de estudo. A edtech recebeu mais de US$360 milhões em aportes ao longo do seu crescimento e hoje tem um valuation que ultrapassa os 3 bilhões de dólares.

Mercado e benchmarks

De acordo com a EduReach, o mercado global de educação pode chegar ao valor de US$ 85 bilhões em 2027. Se falarmos especificamente do ensino superior, a previsão também é animadora: US$35,8 bilhões em 2025, segundo Markets and Markets.

No Brasil, há mais de 190 mil instituições de ensino, do básico ao superior, e cerca de 2,7 milhões de docentes. São números excelentes para o crescimento de plataformas como as citadas acima. Cada profissional da educação fornece uma oportunidade de reestruturar os modelos que estão em prática no país até o momento.

Como esse ainda é um trabalho em progresso, os benchmarks significativos são os internacionais, conforme mencionado, o que abre uma grande oportunidade para o Brasil:

  • Mentimeter (Suécia) acumulou US$625 mil em duas rodadas;
  • Classplus (Índia) chegou a US$89,5 milhões em 10 rodadas;
  • Udacity (EUA) conseguiu US$235 milhões em sete rodadas;
  • Kahoot (Noruega) conquistou US$363.9 milhões em nove rodadas;
  • Masterclass (EUA) alcançou a marca de US$461.4 milhões em oito rodadas.

Por que investir em edtechs?

Uma das maiores vantagens que vêm junto com o avanço tecnológico, nas edtechs, é a alta possibilidade de escalada. As ferramentas oferecidas podem ser mais atraentes para um segmento educacional, a princípio, mas muitos outros apresentam potencial: do ensino básico ao superior, dos cursos pré-vestibulares aos treinamentos corporativos.

Além disso, é inegável que a transformação digital vai dominar o setor de um jeito ou de outro. Muitas dessas soluções, mesmo sendo digitais, são aplicáveis ao ensino presencial. Atividades interativas e jogos valem tanto para EAD quanto para a sala de aula tradicional. Portanto, as edtechs estão abrindo espaço para atender instituições bem diversas.

Não é à toa que grandes empresas estão se mostrando mais interessadas em M&A (Mergers and Acquisitions). Yduqs, TOTVS, Ânima e Arco adquiriram ou fizeram fusões com startups educacionais, para citar alguns.

Tudo isso indica que há uma boa abertura para exits de edtechs, razão pela qual investidores se mostram cada vez mais interessados. Conforme alunos, professores e instituições passarem a aplicar novas metodologias de ensino e aprendizagem, a tendência é que essas startups pavimentem o caminho para uma nova educação.