Unicórnio ou Zebra?

Startups podem gerar retornos vultuosos para investidores ou fracassos retumbantes. NOVAREJO ouviu o ecossistema de startups e empreendedores para entender como e em quais segmentos o capital está circulando na indústria da inovação.

Raphael Coraccini | marco de 2018

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Os anos que formaram o epicentro da crise econômica não apresentaram apenas números ruins. Entre 2014 e 2016, os investimentos-anjo, aqueles de menor valor e feitos, em geral, por pessoas físicas, cresceram 20%, segundo dados mais recentes da Anjos do Brasil, associação que reúne e representa os investidores-anjo do País. Em 2016, o ticket médio desse tipo de investimento passou de R$108 mil para pouco mais de R$120 mil. Parece pouco, mas em volume foram movimentados R$851 milhões naquele mesmo ano – um crescimento de 9%.

O crescimento aponta para uma concentração nas fontes de capital, cada vez mais oriundas de investidores experientes. Eles fazem parte de um ecossistema que só se multiplica, o das startups, e agilizaram o processo de inovação de mercados tradicionais e criaram um mercado de investidores profissionais, aportando cada vez mais recursos.

O empreendedor Milton Mitidieri é um desses investidores. Ele mantém 10% de seu portfólio de investimentos, que contempla principalmente bancos e mercado imobiliário, para apostar em startups e só espera retornos a partir do quinto ano.

Mitidieri tem como tese de investimento investir em negócios embrionários, que apresentam maior risco. Ele também tem como premissa o tamanho do problema que a empresa quer resolver. “O ponto de partida deve ser resolver dores que incomodem muita gente, principalmente empresas muito grandes”, explica.

Brian Begnoche, sócio-fundador da plataforma de investimentos EqSeed, que intermedeia a relação entre investidores e startups, indica que os investidores que encontram êxito se caracterizam por diluir seus investimentos em várias empresas. “É aconselhável destinar parcelas mais ou menos iguais a várias startups ao longo de um a dois anos e construir um portfólio. Retornos muito interessantes não vem de um ou dois investimentos, mas de vários”, aponta.

Para o especialista, o investidor também precisa investigar as startups e entender a capacidade dos empreendedores, bem como as possibilidades do mercado. “Todo investidor tem o papel e o dever de entender o mercado, a história dos empreendedores e como funciona o produto, a proposta comercial e também os concorrentes”, alerta.

Para 2018, a EqSeed espera levantar R$12 milhões em investimentos para as startups em sua plataforma. No ano passado, o maior investimento foi na Cotexo, marketplace de peças automotivas que recebeu R$600 mil em três meses. Desse montante, 90% partiu de pessoas físicas, em geral, empresários com histórico no mercado de investimentos.

Unicórnio ou Zebra Cotexo

Marcelo Galli e Wilson Campanholi Jr, sócios da Cotexo: marketplace de peças automativas recebeu R$ 600 mil em três meses

Segundo o presidente da Cotexo, Marcelo Galli, o que atraiu os investidores foi o tempo de mercado da Cotexo e a organização da equipe e dos processos. A empresa operou durante cinco anos antes de recorrer a capital externo, o que, segundo Galli, deu mais tranquilidade para os investidores. O aporte mais alto foi de R$100 mil e a média foi de R$11 mil. Em 2017, a Cotexo faturou R$379 mil, um crescimento de 31% em relação ao ano anterior.

Giuliano Moretti, engenheiro químico e investidor do setor de startups, colocou parte de seu dinheiro na Cotexo. Ele, como Mitideri, dedica 10% do seu portfólio de investimento para as startups e faz um trabalho minucioso de diversificação dos investimentos, com alocações em seis startups que atuam em áreas totalmente diferentes. “É investimento de altíssimo risco e por isso aloco uma fração segura do meu rendimento, sempre de acordo com uma estratégia”, indica.

A estratégia de Moretti no direcionamento de seus investimentos contempla também a relevância socioeconômica dos negócios. “O caput da minha tese de investimento é apostar em empresa que contribua para o desenvolvimento social ao mesmo tempo que traga lucro acima da média”, avalia.

A RÉGUA SUBIU

Unicórnio ou Zebra

A startup Pegaki arrecadou R$ 360 mil em uma rodada de captação de apenas nove dias

A startup Pegaki arrecadou R$360 mil em uma rodada de captação de apenas nove dias. A empresa de logística e inovação entrou no mercado para otimizar o sistema de entrega de produtos no varejo eletrônico. A startup trabalha na criação de uma rede de lojistas credenciados para guardar os produtos vendidos na internet para aqueles consumidores que não conseguem receber os itens em casa. “A proposta é facilitar a entrega para o consumidor e para o e-commerce e aumentar o fluxo das lojas de varejo que servem de ponto de coleta”, aponta João Cristofolini, fundador da startup.

São cem pontos ativos em pequenos e médios negócios, mas também em unidades das redes Carrefour e 5ásec em São Paulo e Rio de Janeiro. Depois da captação, a empresa anunciou planos de abrir mais mil pontos de entrega e contrato firmado para entregar produtos da Dafiti e da Decathlon. Cristofolini revela ainda que a Pegaki deve começar a entregar cartões de credito para bancos e fintechs nos próximos meses.

Brian Begnoche, da EqSeed, que organizou também a rodada da Pegaki, explicou que a régua dos investidores para avaliar as startups está cada vez mais alta. Ele explica que o mercado passa por um processo de maturação que naturalmente elimina negócios mal estruturados. A instrução 588 da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), publicada em julho de 2017, impôs mais responsabilidades às plataformas de investimento e às startups. Agora, a CVM é responsável por regular a relação entre startups e investidores.

Unicórnio ou Zebra

“Só poderão captar dinheiro as plataformas com autorização da CVM. Todo assunto mais complexo de estruturação das rodadas de investimento fica para a plataforma, que tem responsabilidade de se reportar à CVM. Isso traz mais segurança para os investidores”, avalia Begnoche.

O varejo pede startups

Unicórnio ou Zebra

Se a mortalidade das startups é grande, o retorno com elas é acima da média do mercado. Um estudo da Grant Thornton e da Anjos do Brasil mostra que, a cada real investido em startups, a economia recebe R$5,80 ao fim de cinco anos. Não por acaso, grandes empresas de todos os setores têm integrado startups ao seu ecossistema. Um estudo realizado pela 100 Open Startups em 2017 apontou que o número de negócios firmados entre startups e corporações aumentou 194%.

A Bacio Di Latte, varejista especializada em doces e sorvetes especiais, observou o potencial da Peepi, startup de programas de incentivos a consumidores e colaboradores que “defendem” uma marca. A startup conseguiu R$360mil em investimentos ao longo de dois meses, e fechou contrato com a empresa para cuidar da imagem dos colaboradores e consumidores que defendem a marca nas redes sociais.

Felipe Tomé, presidente da Peepi, afirma que as recomendações de amigos são a fonte mais confiável de informação para 92% dos consumidores. “Hoje, a decisão de comprar é mais baseada em recomendação de outra pessoa do que em qualquer outro tipo de mídia”, diz Felipe.

O Grupo Pão de Açúcar está incentivando o programa da Liga Ventures de aceleração de startups. Raphael Augusto, startup Hunter da Liga Ventures, revela o que a rede varejista observa nas startups. “Primeiro, a composição do time, se ele é competente, cooperativo e multidisciplinar. Além disso, o modelo de negócio, o grau de inovação e o mercado no qual estão se propondo a entrar. E, finalmente, a parte da tração, que significa o quanto aquela startup já começou a crescer dentro do mercado. A gente pega tudo isso e cruza com a demanda da corporação”, enumera.

Mesmo como mercado ascendente, investimentos em startups ainda podem ser considerados como um ato de coragem por quem coloca seu capital no setor. “Realmente, é uma militância, mesmo que prometa lucros acima do mercado no futuro. A verdade é que é um investimento de alto risco que conta muito mais, hoje, com a vontade do investidor de participar do processo de inovação do País”, conclui Milton Mitidieri.

 

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