Chinesa Didi Chuxing compra controle da 99

No começo de 2018, o mercado tomou conhecimento da primeira startup brasileira avaliada em US$1 bilhão: a 99 – empresa de compartilhamento de corridas de táxi e carros particulares.

Com isso, o Brasil produziu seu primeiro unicórnio. Unicórnio é o termo do mercado de investimento em startups para designar uma empresa que começou como startup e atingiu um valuation de US$1 bilhão.

Por que unicórnio?

É normal para startups de sucesso chegarem a atingir um valuation de R$100 milhões, R$300 milhões, R$500 milhões, por exemplo.

Mas as companhias que chegam a ser avaliadas na faixa de 3, 4 bilhões de reais (dependendo da taxa de câmbio) pertencem a outro patamar, e o mercado brinca que são tão difíceis de encontrar como a criatura mítica – o unicórnio.

A 99 é o segundo aplicativo de transporte mais utilizado no Brasil, perdendo apenas para o Uber. Foi fundada em 2012 pelos empreendedores Paulo Veras, Ariel Lambrecht e Renato Freitas.

Mas, como é possível uma empresa, em apenas seis anos, chegar a ser avaliada em US$1 bilhão? Como foi possível crescer tão rápido?

Em primeiro lugar, esses resultados só são possíveis para startups escaláveis atuando em mercados enormes com modelos disruptivos. Esse é o caso da 99 – um marketplace que conecta motoristas de táxi e carros particulares com passageiros.

Mas não é só isso.

Para aproveitar da oportunidade no mercado, essas empresas inovadoras precisam de capital.

Elas abastecem esse crescimento acelerado através de várias rodadas de investimento ao longo de anos – investimentos que utilizam para deixar os concorrentes para trás e transformar a empresa, de uma startup enxuta de 3 a 5 pessoas, em uma empresa de grande porte, com centenas a milhares de funcionários, tudo isso em uma janela de 5 a 10 anos.

A seguir, a história desse unicórnio brasileiro.

De startup enxuta para primeiro unicórnio brasileiro

Tudo começou em 2012, quando Paulo Veras foi abordado por Ariel Lambrecht e Renato Freitas, que queriam lançar um aplicativo de transporte de táxi. Eles precisavam adicionar a noção de negócios, que Paulo agregaria ao time.

O investimento inicial dos três sócios foi de 50 mil reais para tirar a ideia da cabeça, começar a operação do negócio e lançar o MVP. E com isso a 99Taxis nasceu.

O foco inicial era oferecer o aplicativo para taxistas. Nessa época, a 99Taxis competia com outros dois aplicativos de táxi. Eram: o EasyTaxi, que iniciou um ano antes e já tinha recebido investimento externo, e o SaferTaxi, que também tinha recebido investimento de um fundo de capital de risco.

Crescimento com estratégia agressiva

No início, os primeiros aplicativos de táxi no Brasil cobravam R$2 por corrida. No entanto, a 99 entrou no mercado sem cobrar taxas dos taxistas. Isso fez com que o aplicativo crescesse rapidamente, impulsionado pela divulgação dos próprios taxistas.

A iniciativa da 99Taxis acabou forçando a concorrência a fazer o mesmo ou desistir do mercado – o que aconteceu com a TaxiBeat, startup grega que fechou suas portas no Brasil.

Com uma estratégia agressiva de não cobrar para conquistar o maior número possível de taxistas e usuários, a 99Taxis precisava de alguma fonte dinheiro para investir em startups e impulsionar o seu crescimento.

Era uma corrida para ganhar usuários – modelo comum em startups – para adquirir um pedaço significativo do mercado com estratégia de monetizar após agregar um número crítico de usuários. Muitas vezes, quem consegue fechar rodadas de investimento com sucesso fica melhor posicionado para escalar rápido e ganhar essa corrida. Com as rodadas, a empresa pode contar com o dinheiro para abastecer o crescimento acelerado.

Inicialmente, a 99Taxis focou suas operações na cidade de São Paulo. O plano era expandir comercialmente para outras cidades. Para executar isso, eles precisariam de mais investimento.

99Taxis fecha uma rodada de Venture Capital

Em 2013, a empresa conseguiu fechar uma rodada Venture Capital de R$3 milhões, formada por uma mistura de investidores pessoas físicas e fundos de investimento.

O foco dessa rodada era possibilitar o crescimento o time da 99Taxis, que passou de 10 pessoas para 40 na equipe, e expandir para outras cidades.

Com decisões acertadas e dinheiro em caixa, a empresa começou a contratar e expandir.

Em poucos meses após seu lançamento, a 99Taxis já fazia mil corridas por mês. Este número foi crescendo, até atingir o marco impressionante de 1 milhão de corridas por mês. A empresa começou a colocar como objetivo a manutenção de um ritmo de crescimento de 5% a 10% em corridas toda semana.

Além disso, a 99Taxis apresentou uma série de inovações em relação aos concorrentes. Um exemplo é a cobrança feita no próprio aplicativo, que ainda não existia, e a escolha automática do táxi mais próximo do passageiro.

Em pagamentos efetuados por meio do aplicativo, a 99Taxis passou a cobrar uma taxa de 12,99% por corrida. Em 2016, essa cobrança passou a ser de R$2 por corrida, mais 5% referente aos custos com os gateways de pagamento.

Entrada do Uber no Brasil

Mas em meados de 2014, tudo mudou para 99Taxis. A gigante Uber decidiu entrar no mercado brasileiro.

Com a entrada desse player global, chegaram novos desafios para a empresa. A Uber, que já operava em 37 países, veio equipada com uma tecnologia superior, um produto focado em carros comuns e um preço mais baixo. Isso sem mencionar a desvantagem de capital que a 99Taxis tinha perante esse colosso internacional.

Nessa época, a Uber era avaliada em US$18 bilhões (cerca de R$50 bilhões conforme cotação do dólar nesse período), e trouxe para o Brasil centenas de milhões de reais destinados a gastar em busca de conquistar o mercado brasileiro.

Ficou claro que, para continuar competindo, a 99Taxis precisava de mais investimento para disputar esse mercado diretamente com a Uber.

Assim, fechou uma rodada Series A no início de 2015, no valor de US$15 milhões (equivalente a aproximadamente R$40 milhões). Os investimentos estavam destinados a abastecer os gastos necessários para concorrer.

Com US$15 milhões, dá para fazer muita coisa. Mas a competição nesse mercado B2C é incrivelmente acirrada, e o prêmio para quem conquista o primeiro lugar é grande. Especificamente, esse modelo exige uma enorme quantidade de capital a ser alocado para marketing para ganhar usuários.

Assim, apenas dois meses depois dessa captação, a 99Taxis captou mais US$25 milhões (cerca de R$70 milhões) na sua rodada de investimento Series B.

Pois é – no mundo de startups, as coisas podem acontecer tão rápido assim.

Na soma, os dois investimentos recebidos equivaliam a cerca de R$110 milhões.

99Taxis vira 99

Ao fim de 2015, com a estratégia de não se limitar mais somente aos táxis, a 99Taxis muda seu nome para simplesmente 99, com a ideia de incluir um serviço de corridas feitas por carros particulares e assim competir diretamente com o Uber.

Mesmo depois de ter conquistado US$40 milhões em investimento para brigar com a Uber e outros aplicativos, como o Cabify, a 99 reparou que precisaria de ainda mais capital para continuar concorrendo.

Em meados de 2016, a 99 resolveu lançar o serviço 99Pop, para efetivamente concorrer diretamente com o Uber em corridas feitas por carros particulares.

Nessa época, a 99 calculava dominar 60% do mercado de aplicativos de táxi em São Paulo, com 35 mil taxistas cadastrados e 150 mil ao redor do Brasil. A startup passou a atrair muitos taxistas registrados. Esses taxistas preferiam usar 99 e ter custos muito inferiores ao das diárias em frotas e cooperativas, que podiam chegar a até R$170 por dia.

Com US$40 milhões em caixa e um plano estratégico, a 99 se estabilizou no mercado e retomou seu crescimento. Os investimentos foram destinados a aumentar a equipe, melhorar o aplicativo e ampliar o marketing.

Rodadas de US$100 milhões

Como todos viram, esses aplicativos de corridas compartilhadas revolucionaram o mercado de transporte nos últimos anos. Naquele momento, com um mercado tão “quente”, o passo era frenético para a 99 e os aportes foram utilizados rapidamente.

Passou apenas um ano e meio e a 99 voltou ao mercado para captar mais investimentos.

O ano de 2017 foi outro ano de dupla captação para a 99. Em janeiro desse ano, fecharam uma rodada de investimento Series C no valor de US$100 milhões (cerca de 320 milhões de reais). Esse investimento foi feito pela Didi Chuxing, empresa que acabou comprando posteriormente a 99. Apenas cinco meses depois, a empresa levantou mais US$100 milhões em investimento através do SoftBank.

Com o investimento, a 99 dobrou o número de funcionários, chegando a aproximadamente 400 colaboradores. Também usaram os recursos para melhorar a tecnologia do aplicativo e para o marketing, com a intenção de ampliar o conhecimento da marca. De janeiro a maio de 2017, o número de corridas do 99Pop cresceu 25 vezes, superando a metade das corridas feitas utilizando a 99 em São Paulo.

No início do post nós nos perguntamos como é possível uma empresa crescer tão rápido, de uma ideia até um valuation de mais de US$1 bilhão, em tão pouco tempo.

A resposta:

Modelo escalável, mercado enorme e várias rodadas de investimento.

Hoje, a 99 conta com mais de mil funcionários espalhados por diversas capitais do Brasil. Contabiliza 300 mil motoristas e são aproximadamente 14 milhões de passageiros que já usaram o aplicativo. É a principal concorrente do Uber.

Fundadores da 99

O grande momento: Didi Chuxing compra controle da 99

Em janeiro de 2018, a chinesa Didi Chuxing desembolsou US$960 milhões (aproximadamente R$3 bilhões) para comprar o controle societário da 99. Estima-se que eles já detinham uma participação de 30% no aplicativo. A operação avaliou a 99 em 1 bilhão de dólares.

Dos US$960 milhões transacionados, US$600 milhões foram para comprar as ações dos investidores anteriores, o que resulta em uma saída, ou exit desses investidores anteriores.

Essa operação é um ótimo exemplo de um momento de liquidez. É quando você, como investidor inicial que apostou na empresa startup, tem a possibilidade de vender a sua participação.

É o momento de ouro para todo investidor de startups, pois é nesse momento que o investidor consegue realizar seus retornos – que podem chegar a ser extraordinários.

A aquisição da 99 pela Didi é mais um exemplo de uma tendência comprovada: a de grandes players optando comprar startups inovadoras que conseguiram conquistar uma parte significativa do mercado.

No caso da Didi, essa aquisição fez parte de uma estratégia de expansão global.

Muitas empresas internacionais visam uma expansão global em determinado momento. O mercado brasileiro tem inúmeros atrativos e consequentemente entra no radar dessas empresas. Quando essas empresas se deparam com a cultura brasileira e seus aspectos locais de negócio, decidem que faz mais sentido comprar uma startup “tropicalizada” como uma forma de competir localmente.

O resultado para o investidor em startups brasileiras é de possibilidades de retornos extremamente significativos, quando conseguir vender sua participação na startup – o seu investimento – para uma grande empresa que decide comprar a startup investida.

Startup Exit gera retornos impressionantes para investidores iniciais

Conseguir atingir um valuation de US$1 bilhão é um marco não só para a 99, mas para o ecossistema de investimento em startups no Brasil. É um caso de extremo sucesso que serve para aumentar a confiança de investidores em startups, fundos de Venture Capital e Private Equity, no potencial do mercado brasileiro para empresas com propostas inovadoras.

Mas, na prática, o que significaria essa compra para os investidores que investiram cedo na história da 99 – na etapa seed, por exemplo?

Não temos informações oficiais sobre uma rodada seed da 99. No entanto, a maioria das startups passam por essa etapa, antes de fazer sua rodada Venture Capital.

E se você tivesse investido na 99?

Como exercício hipotético, vamos imaginar que a 99 fez uma rodada seed de R$600 mil no início de 2013, antes da sua rodada Venture Capital de R$3 milhões.

Vamos assumir que a 99 ofereceu 10% de equity nessa rodada. Isso resultaria em um valuation post-money de R$6 milhões.

Se você tivesse acesso à rodada naquela época, você poderia ter comprado uma porcentagem da empresa, antes dela fechar rodadas com os fundos de investimento e antes dela começar seu crescimento exponencial.

Para esse exemplo, imagine que você conseguiu comprar 2% da 99, investindo R$120 mil.

Após essa rodada seed hipotética, a 99 fez mais 5 rodadas de investimento antes de atingir o momento de exit. É razoável assumir que você, como investidor, optaria por utilizar seu direito de preferência em algumas mas não em todas as rodadas seguintes. Portanto, podemos assumir que você teria por volta de 1% da 99 no momento que a Didi comprou o controle da 99. Esse teria sido seu momento de exit, de lucrar com seu investimento.

No momento da venda para a Didi, você teria recebido R$10 milhões pela sua participação societária da 99.

Um retorno de incríveis 83 vezes o seu investimento inicial ou cerca de 167% ao ano.

Isso em 5 anos desde o seu investimento inicial na empresa. É espetacular.

99: Mais um case de sucesso brasileiro

O caso da 99 é mais um exemplo de caso de sucesso de uma startup brasileira que traçou uma trajetória de escalar em um período relativamente rápido. A empresa conseguiu escalar através de muito trabalho e rodadas de investimento, até o momento de ser adquirida por uma empresa de porte maior.

Somente imaginar ter a oportunidade de investir na 99 no início da sua trajetória mostra por que é tão interessante investir em startups. É somente as startups que conseguem crescer tanto em tão pouco tempo e quando você investe em startups, você acessa a possibilidade de acompanhar esse crescimento financeiro potencialmente explosivo.

É sempre válido lembrar que, para atingir os melhores resultados ao investir em startups, é importante aplicar a estratégia certa.

Aplicando uma estratégia de diversificação e escolhendo de startups pré-filtradas para seu portfólio, você pode se posicionar bem para atingir retornos significativos com sua carteira de startups.

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