Startup Exit: A trajetória de crescimento do iFood, o unicórnio brasileiro que não para de crescer.

O Ifood atingiu a marca de 39 milhões de pedidos entregues por mês e hoje, é considerada a maior empresa de delivery de refeições no Brasil. Com menos de dez anos, a startup é um unicórnio desde 2017 e passou por sete rodadas de investimentos. A trejetória de crescimento da empresa foi pautada em investimento em tecnologia e aquisição de plataformas menores.

O iFood domina o mercado brasileiro, com liderança isolada frente aos principais concorrentes. Mas não para por aí. Uma das principais metas dos fundadores ainda é expandir os serviços para toda a América Latina. Com planejamento preciso, a agora bilionária plataforma cresce em ritmo vertiginoso e é um dos melhores exemplos do que é uma startup escalável. A empresa focou em tecnologia e não em frota e conectou restaurantes a consumidores por todo o País.

 

Origem

começo do ifood

Print do Ifood em 2011.

 

O iFood surgiu quando Felipe Fioravante trabalhava em uma empresa de tecnologia chamada Disk Cook, que possuía uma tecnologia de gestão de entregas para restaurantes e lanchonetes.

Fioravante teve a ideia de criar o iFood junto com os sócios Patrick Sigrist, Eduardo Baer (atual CEO e Co-Fundador do DogHero) e Guilherme Bonifácio. A startup foi fundada oficialmente no dia 15 de maio de 2011. O objetivo do time era causar uma disrupção nos negócios de delivery de alimentos no Brasil, conectanto o consumidor com o restaurante. A ideia foi tão boa que em meio ano, a plataforma já tinha 650 restaurantes credenciados, só em São Paulo.

Mas a missão ainda estava longe de ser concluída, já que os sócios tinham como sonho fazer o iFood ser a maior plataforma de delivery da América Latina. Além disso, crescer com qualidade, democratizando opções de produtos para os clientes.

 

O Primeiro aporte e o exit da Warehouse Investimentos

ifood investimento

 

Em menos de três meses desde a fundação, os sócios do iFood conseguiram a primeira captação. O fundo Warehouse Investimentos, gestora de venture capital, aportou R$ 3,1 milhões em troca de 30% do iFood em agosto de 2011. Na época do aporte, a startup anunciou o lançamento do aplicativo para usuários de iPhone.

A ferramenta veio para permitir aos clientes cadastrados as mesmas funcionalidades da plataforma, como consulta a cardápios, tempo de entrega e preços. Nesta época, o iFood já operava em São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador e Santos.

Três anos depois, em 2014, a Movile passou a investir no iFood. A empresa brasileira atua no mercado de capital de risco, com sede em Campinas e opera em diversos países, como Argentina, Chile, México e França. Em fevereiro daquele ano, a Movile aportou R$ 5 milhões no iFood.

Em agosto, a Warehouse Investimentos vendeu toda a participação da startup para a Movile, que passou a ser a acionista majoritária do iFood.

A Movile causou um impacto indiscutível nos negócios da startup, que viu seus números atingirem patamares recorde. A quantidade de entregas anuais bateu a marca de 3,5 milhões. E o aplicativo passou a ser o foco da empresa. Antes, 7% dos pedidos eram feitos por ali. A partir da entrada da Movile, esse número saltou para 60%.

Nesta época, a rede já contava com 3 mil restaurantes ativos, recebia cerca de 200 mil pedidos de entregas por mês e operava em 20 das cidades economicamente mais relevantes do Brasil.

 

A importância da Movile no mercado de aplicativos

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Antes de conhecer a trajetória do iFood, é preciso conhecer a história da Movile. Não foi a primeira vez que a empresa pavimentou a mudança de um mercado importante no Brasil. Para entender o impacto que o grupo de investimentos causou no País, é importante dizer o que foi feito ainda no século passado. A empresa foi criada em 1998, mas com outro nome: Intraweb. O primeiro grande investimento foi no mercado de celulares. Emergindo como uma empresa de SMS e ringtones, a Intraweb precisou se reinventar com a chegada do iPhone, que praticamente matou esse mercado.

Foi então que a Movile percebeu que o futuro dos investimentos seria o de aplicativos. A empresa passou a investir em novos modelos de negócios, que surgiam como apps e nunca mais saiu. Na época, alguns aportes ocorreram e mais tarde Eduardo Henrique, um dos fundadores da Movile admitiu que muitos erros foram cometidos neste novo mercado antes do primeiro grande acerto, como investir em vídeos e aplicativos que não deram nenhum retorno.

Um dos maiores baques foi quando a Movile gastou US$ 100 mil para desenvolver um sistema de vídeos para notificação para ser inserido no Facebook e menos de 15 dias depois, a plataforma mudou o funcionamento da API de notificação. Isso literalmente fez com que todo o investimento da Movile resultasse em retorno nenhum.

Depois disso, a empresa passou a se envolver em empreendimentos no Vale do Silício e mudou as estratégias de negócio.

A startup aprendeu o conceito MVP (Minimum Viable Product, ou seja, mínimo produto viável) e desenvolveu em dois dias o Canal Desenho, que cobrava uma taxa US$ 9,99 mensais por uma assinatura. Os usuários tinham acesso a 10 vídeos infantis. O resultado foi positivo e a empresa entendeu que vídeos para crianças eram um nicho que provinha um retorno interessante na época.

Foi assim que a Movile criou a Play Kids, que chegou a ser o aplicativo infantil mais baixado do mundo (38 milhões de downloads). Desde então, o aplicativo sofreu algumas alterações e hoje funciona como um streaming para crianças, com desenhos, jogos e músicas.

Engajada no mercado de aplicativos, foi a vez da Movile apostar em aquisições de tecnologias promissoras. O iFood foi a maior conquista da empresa no Brasil até hoje. A estratégia foi agressiva. Além de ajudar a crescer de 15 mil pedidos por mês para 3,5 milhões, o iFood comprou 12 concorrentes.

Até aquele momento, a Play Kids e o iFood eram os maiores sucessos da Movile, o que mostra que a verdadeira especialidade da empresa era o trabalho com aplicativos. Hoje, a Movile atua em segmentos dos mais variados, como entregas, meios de pagamento e até mesmo compra de ingressos.

 

Internacionalização do iFood

expansão internacional ifood

 

Quando a Movile assumiu de vez os negócios do iFood, a marca não parou mais de crescer, alavancada por altos investimentos e agressividade com a concorrência. Em 2016, com o mercado de delivery no Brasil praticamente dominado, foi a hora de colocar em prática o plano de internacionalização da plataforma. O iFood adquiriu 49% da empresa mexicana SinDelantal, uma das empresas mais relevantes do mercado de delivery no país, por cerca de R$ 100 milhões. A Just EAT, empresa europeia que era a proprietária da SinDelantal.mx, passou a dividir as operações com o iFood.

Na época da aquisição, Carlos Moisés, que era vice-presidente financeiro do iFood, disse que o mercado mexicano foi o primeiro passo da internacionalização da empresa por conta da economia do país. Além disso, ressaltou que o comportamento dos consumidores lembra o dos brasileiros e, por isso, seria uma boa ponte para a expansão.

Antes de partir para Argentina e Colômbia, a estratégia do iFood era se consolidar nos mercados brasileiro e mexicano. Enquanto isso, tinha parceiros atuando em diversos países da América Latina para observar empresas emergentes que deveriam ser adquiridas.

 

O último aporte, se tornando Unicórnio

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Em 2018, o mercado foi pego de surpresa quando o iFood recebeu um aporte de US$ 500 milhões (na cotação da época, R$ 1,9 bilhão), em uma rodada de investimento feita por Movile, Naspers e Innova Capital. Este foi e ainda é o maior aporte privado em uma empresa de tecnologia já registrado no Brasil. O capital foi usado para expansão no Brasil e no desenvolvimento de novas tecnologias, segundo informações divulgadas pelo iFood e pela Movile.

Durante o anúncio do aporte, o CEO da Movile disse que iFood e Movile tinham atingido a valuation de US$ 1 bilhão, sendo os mais novos unicórnios do Brasil. A marca, porém, teria sido alcançada pelo iFood um ano antes do aporte, mas o valuation não foi divulgado.

Do total, US$ 100 milhões foram aplicados pela Movile, com capital vindo dos US$ 124 milhões que a Movile recebeu em julho do mesmo ano. Os outros US$ 400 milhões foram aplicados pela Naspers e Innova Capital.

Esse foi o maior investimento que o iFood recebeu, e supera em muito os anteriores. Somando todas as seis rodadas anteriores, a empresa havia recebido, US$ 91,9 milhões. Menos de um quinto da última. Ou seja, até hoje, o iFood captou US$ 591,9 milhões.

 

A Pandemia

ifood durante a pandemia

 

De lá para cá, o iFood só cresceu e se consolidou sem nenhum concorrente fazendo frente à plataforma. O Brasil tem outras empresas atuando no mercado de delivery de alimentos, como Uber Eats, Rappi e 99 Food, mas ao menos até o momento, nenhuma obteve a mesma penetração de mercado do iFood.

Em 2020, um fenômeno mundial impactou muitos setores. A pandemia, que trouxe isolamento social, alavancou o número de pedidos. Em agosto, o iFood anunciou que a plataforma intermediou 39 milhões de pedidos por mês durante o período de quarentena.

Essa marca se deve principalmente à mudança de comportamento dos consumidores. Apesar os períodos de almoço e jantar ainda serem o de maior movimentação, houve um boom de pedidos de café da manhã, que cresceu 133% em dias úteis e 127% nos finais de semana.

O segmento que mais cresceu foi o de pequenos e médios restaurantes, com uma demanda 44% maior que no início da pandemia (chegou à marca de 18 milhões por mês). As padarias anotaram aumento de 156% neste período. E o aumento de pedidos de doces e bolos cresceu 88%.

O iFood chegou também à marca de 212 mil restaurantes parceiros. Um aumento de 32% em relação a março de 2020, quando começaram os protocolos de isolamento. O iFood tinha cadastrado 160 mil restaurantes na época.

 

Drones (Para o alto e avante)

drone ifood

 

Quando o iFood diz que investe em tecnologia e quer revolucionar o mercado, acredite. Um dos principais choques que a empresa deu em 2020 foi o anúncio de que estaria apostando em entregas com o uso de drones. Apesar de parecer algo muito futurista e distante, a Anac (Agência Nacional Aviação Civil) já autorizou que fossem realizados os primeiros testes de entregas.

Os drones não serão usados para entregar diretamente para o consumidor final, mas para reduzir o tempo de entrega de toda a malha. Então não existe motivo para pânico, já que nenhum robô vai entrar na casa de ninguém. Neste momento, os drones vai executar apenas uma fase inicial da rota, deixando o pedido na mão do entregador, que completará o trajeto.

Já há data e local para início dos testes: em outubro, em Campinas, no interior de São Paulo. Os drones vão cobrir duas rotas. A primeira, entre a praça de alimentação do Shopping Iguatemi Campinas e o iFood Hub, também no shopping.

Funcionará assim: os “mensageiros”, que prestam serviço ao iFood, serão responsáveis por retirar os pedidos na praça de alimentação e levar até um posto de decolagem, na área superior do shopping. Os pedidos são anexados aos drones, que partem para o iFood Hub em um voo de cerca de 400 metros. Neste local, o entregador recolhe o pedido e leva para o cliente final. A previsão é de uma economia de até dez minutos por entrega para todos os pedidos feitos a restaurantes do shopping.

A segunda fase de testes será entre o iFood Hub e um complexo de condomínios próximo ao shopping Shopping Iguatemi Campinas. Desta vez, a economia de tempo será de cerca de seis minutos.

Os primeiros drones voarão a cerca de 40 quilômetros por hora, em uma altura de 60 metros. Não há, ainda, uma previsão de quais cidades receberão outros testes ou entregas por drones de forma definitiva.

 

iFood é sinônimo de sucesso

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Quando se fala em startup, no Brasil, a imagem que a maioria das pessoas pensa é no iFood e no Uber. Um ponto a se considerar é que a primeira é brasileira. Tecnicamente, ela estava ao alcance dos investidores, que certamente buscam uma empresa com o potencial de retorno que o iFood trouxe.

Investir em startups é muito diferente do que investir em empresas com capital aberto na Bolsa. As startups buscam a escalabilidade ao utilizar tecnologia no cerne do modelo de negócios da empresa e assim, conseguem crescer tanto em tão pouco tempo. Quando você investe em startups, você acessa a possibilidade acompanhar esse crescimento financeiro potencialmente explosivo.

É sempre válido lembrar que, para atingir os melhores resultados ao investir em startups, assim como na maioria dos ativos financeiros, é importante ter uma estratégia por trás. Aplicando uma estratégia de diversificação e escolhendo de startups pré-filtradas para seu portfólio, você pode se posicionar bem para atingir retornos significativos com sua carteira de startups.

 

E se você tivesse investido no Ifood em 2011?

retorno do ifood

 

Premissas

Imagine que você tivesse entrado na primeira rodada de investimentos do Ifood (2011), promovida pela Warehouse. Nela, foram investidos 3,1 milhões de reais por 30% da participação societária. No caso, o valuation da empresa seria de 10,33 milhões de reais.

Vamos supôr que ao entrar nessa rodada, você tivesse adquirido 0,1% da Startup, o que representa um investimento de 10,3 mil de reais.

Após esse aporte, o Ifood passou por outros dois investimentos da Movile (Em 2013 e 2014) e, de forma conservadora, você optou por não exercer seu direito de preferência em nenhuma delas.

Como a Movile não costuma divulgar todas as informações referentes aos seus aportes de capital, estimamos que na primeira rodada de investimentos subsequentes foram adquiridos 25% de participação e na seguinte outros 10%.

Após os eventos anteriores, ainda em 2014, a própria Movile adquiriu a participação referente a Warehouse e assumiu o controle da empresa, caracterizando o Exit.

 

Qual teria sido seu retorno em 2014?

retorno financeiro ifood

 

Com a diluição da sua participação, no momento do Exit (2014) você teria 0,07% da empresa.

Com isso, você teria 44,44 mil reais, o equivalente a um retorno de 330,1% no período, o que resultaria em um retorno de 60,7% ao ano.

Sendo assim, seu retorno teria sido de 4,3 vezes o valor investido em um prazo de aproximadamente 3 anos.

Essa análise leva em consideração o período da primeira rodada do Ifood (Agosto de 2011) até a Movile se tornar a controladora com a compra da participação da Warehouse (Agosto de 2014) e mostra o percentual de retorno com base anual.

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