A projeção é que, em 2027, o mercado peer-to-peer atinja o valor de US$558,91 bilhões

O modelo tradicional de empréstimos no Brasil consiste, na maioria dos casos, no uso dos bancos como intermediários. De acordo com o Banco Central, 80% dessas operações estão concentradas nos cinco maiores bancos do país. Em termos práticos, isso significa que a maioria das pessoas e empresas que precisam de um empréstimo se veem presas a um sistema de juros altos, sem contato direto com investidores.

Do outro lado, os investidores recebem juros baixos a partir da aplicação de seus recursos nos bancos. Ou seja, grande parte do dinheiro envolvido nesses investimentos fica para o intermediário. E a perda pode se tornar ainda maior.

Nós temos o 2º maior spread bancário no mundo todo, perdendo apenas para Madagascar. Mesmo com a redução nos custos de captação, o spread só aumenta, o que, em contrapartida, baixa os índices de recuperação de crédito — e a inadimplência é um problema conhecido no Brasil. Ela torna improvável que os bancos diminuam o spread, e tudo acaba se tornando uma bola de neve.

Agora, com o aumento da taxa Selic de 2% para 2,75% ao ano, prevê-se ainda mais um aumento das taxas bancárias, uma vez que a Selic é a taxa de juro básico da economia. Esse aumento atinge diretamente a pessoa física, visto que são elas que pagam os maiores juros nos bancos, podendo chegar em até 24,56% a.m..

Os problemas desse modelo tradicional não estão restritos aos brasileiros. É uma situação comum ao redor do mundo. Assim, surgem as fintechs especializadas na relação entre os investidores e os receptores de crédito, sem nenhum banco entre eles. A única forma de mudar o “lugar comum” da área é com ações e tecnologias inovadoras — e é exatamente o que vem sendo feito e garantido o sucesso das novas plataformas.

 

O papel da tecnologia

As plataformas criadas pelas fintechs mudam completamente o cenário, que se torna P2P, ou Peer-To-Peer: empréstimos feitos diretamente de pessoa para pessoa, sem interferência de instituições financeiras como as conhecemos. Esse formato pode ser utilizado para realizar empréstimos pessoais, mas o foco costuma ser o financiamento de negócios.

Ou seja, investidores passam a ter a chance de investir coletivamente em empresas que precisam de capital de giro e receber um retorno significativo no processo. Os empreendedores conseguem acesso ao capital e não precisam enfrentar taxas altíssimas no pagamento.

Tudo só se torna possível com plataformas que permitem o acesso online, fácil e seguro. Todos os processos são feitos virtualmente, seguindo a legislação vigente e com ou sem garantias reais, dependendo da fintech. Portanto, além de inovadora pelo próprio modo como funciona, essa novidade já surge com muito mais agilidade do que qualquer metodologia tradicional que envolva os bancos.

 

Mercado e benchmarks no peer-to-peer

Vimos o problema e vimos a solução, então resta descobrir: como anda o mercado peer-to-peer?

Para começar, a Taxa de Crescimento Anual Composta Global é de 29,7%, segundo estudo realizado pelo Allied Market Research. A projeção é que, em 2027, o mercado peer-to-peer atinja o valor de US$558,91 bilhões. No Brasil, conseguimos ver mais de perto como os investidores atuam. O Money Times divulgou que o valor médio investido em plataformas peer-to-peer é de R$8,6 mil e que mais de 30% dos responsáveis são de São Paulo.

É interessante avaliar também os diferentes tipos de empréstimos mais vistos nas plataformas. De acordo com a pesquisa do Allied, o segmento de empréstimos para negócios já é dominante em relação aos empréstimos pessoais, feitos diretamente a consumidores. Isso deve se manter pelos próximos anos, com concentração nos pequenos negócios, que prometem ser os mais lucrativos nos próximos anos. Já pudemos observar essa tendência no Reino Unido e na Alemanha: 53% de pequenas e médias organizações, em 2019, abriram pedidos de empréstimo online.

Temos alguns exemplos internacionais de plataformas de sucesso que embarcaram nesse ritmo crescente. Por exemplo, o Lending Club, dos Estados Unidos, que possui mais de 3 milhões de membros e já passou de US$60 bilhões em empréstimos. Para chegar onde está hoje, a empresa já passou por 15 rodadas de investimentos, totalizando US$392,2 milhões distribuídos por 24 investidores. Eles já adquiriram duas organizações; a mais recente, Radius Bank, no início de 2020. O IPO chegou a US$5,4 bilhões.

Há, ainda, outros ótimos exemplos de exits na área:

  • Peerform, que em cinco rodadas totalizou US$5,3 milhões;
  • Payoff, com US$12 milhões em duas rodadas;
  • Upstart, com US$144,1 milhões em seis rodadas;
  • Prosper, que chegou a US$415,5 milhões em 16 rodadas, além de duas aquisições;
  • Funding Circle, atingindo US$746,4 milhões em 10 rodadas, e três aquisições.

A atratividade do peer-to-peer

Além de ser bem mais proveitoso para mutuários (as empresas e pessoas que solicitam os empréstimos) e para investidores no sentido financeiro, o modelo peer-to-peer também faz tanto sucesso por conta de suas outras particularidades.

A digitalização dos processos de empréstimo ajudam a deixar tudo mais rápido e transparente. Rápido porque não há necessidade de deslocamento físico, tudo é feito online a partir de alguns cliques. Transparente porque as plataformas requerem todas as informações relevantes sobre os mutuários para entender os riscos e, diferente dos bancos, podem repassar esse conhecimento para o investidor. Isso ajuda, inclusive, na tomada de decisão e na análise de risco que o investidor precisa fazer ao comparar diversas possibilidades de investimento.

As fintechs têm maior facilidade em operar por conta da redução de custos, visto que não é necessário uma grande infraestrutura física para acompanhar a digital. A equipe também não precisa ser tão grande quanto a de um banco. Essas e outras diferenças permitem que as taxas cobradas dos mutuários sejam menores, e as repassadas aos investidores sejam mais atrativas, girando assim um modelo de negócio que agrade todos os stakeholders.

Em resumo, as plataformas de digitais peer-to-peer chegaram para quebrar a hegemonia das instituições financeiras tradicionais sobre os investimentos mais comuns. Os bancos continuam mantendo altos níveis de spread e são facilmente afetados por decisões governamentais, tornando o cenário instável para os investidores. Além disso, a busca por empréstimos em bancos costuma ser frustrante com os juros sempre altos, muitas vezes impossibilitando que pequenos negócios cresçam ou sequer saiam do papel.

No mundo inteiro já é possível ver o progresso das fintechs que oferecem a solução ideal para esses problemas. Conforme a população ganha mais conhecimento sobre essa inovação, mais forte será o mercado.