Os últimos anos foram de grande avanço para as startups brasileiras e o cenário de investimentos nunca esteve tão em alta. Somente em 2021, de acordo com a plataforma de inovação Distrito, as companhias brasileiras receberam investimento recorde de US$9,43 bilhões. Além disso, a plataforma ainda prevê mais 20 unicórnios brasileiros até 2023, enquanto a Associação Brasileira de Startups traz um estudo a médio prazo que afirma que o número deve chegar a 100 até 2026

Mas e o ano de 2022? Deve ser considerado um momento de crise nas startups?  

A resposta é não! O mercado está passando por um caminho natural no ciclo de vida das startups, somado a fatores econômicos que contribuem para uma leve desaceleração de investimentos, mas que não preocupam os especialistas e investidores. Isso porque a economia é feita por grandes fases, e entende-se que após um ano recorde de aportes, é necessário também que as empresas tenham importantes reestruturações estratégicas para que possam seguir crescendo, mirando o break-even e a lucratividade.

Para entender o cenário atual, trouxemos algumas reflexões que mostram o atual momento do mercado: 

Empresas de tecnologia são o futuro

Não há dúvidas que as novas (e ainda desconhecidas) tecnologias são o futuro da sociedade. No Brasil, este cenário é mais propício, uma vez que o país possui inúmeros problemas os quais podem ser resolvidos por meio de novas ferramentas que estão sendo implementadas no mercado. Este fato traz uma visão muito clara de que o futuro ainda tem muito espaço para startups que realmente querem impactar e transformar um mercado e a sua relação com a sociedade. 

É importante lembrar que as startups que tenham o seu propósito bem estruturado, focadas na construção de inovação e no valor agregado gerado aos consumidores, terão um modelo de negócio com alto potencial de escalabilidade e, consequentemente, de crescimento exponencial. E, neste cenário, ainda há muito o que construir no mundo e, principalmente, no mercado brasileiro.

Ainda há recursos alocados para serem anunciados

No que se refere a investimentos, o início do ano não ficou atrás de 2021, mesmo este tendo sido considerado o ano recorde na história brasileira. Apenas no primeiro trimestre de 2022, o ecossistema recebeu US$2,04 bilhões em aportes, 4% a mais do que o mesmo período do ano anterior, de acordo com o Inside Venture Capital Report. 

Além disso, a expectativa é que em 2022 o ecossistema brasileiro receba entre US$10,7 e US$12,9 bilhões, 50% acima de 2021, segundo estudo da plataforma Distrito. 

Apesar da cautela apresentada diante do ambiente macroeconômico, muitos fundos já planejaram, ainda em 2021, a alocação dos seus recursos para 2022 e, portanto, mantém-se uma agenda positiva para ser anunciada ao longo de todo o período.

Valuations passam a ser mais reais

Nos últimos anos, durante um momento de liquidez muito favorável, o valor das startups cresceu significativamente em todas as etapas de captação. Porém, ao observar o crescimento das companhias, não houve o acompanhamento deste crescimento no que se trata de faturamento. 

Sendo assim, o mercado tem um movimento natural de cautela nos aportes financeiros, não pela falta de investimentos, mas sim pela melhor estratégia de alocação dos recursos. É importante entender que os investimentos em startups trazem retornos no médio e longo prazo, porém é fundamental atentar-se à estruturação e ao crescimento das mesmas. 

O cenário de 2022 traz o ajuste dos juros no Brasil, que fará com que as startups voltem a ter avaliações mais assertivas sobre o seu valor de mercado. E, para os investidores que buscam assertividade a longo prazo, o momento de reajustes de valuation é uma ótima oportunidade para os aportes financeiros. 

Momento de seletividade e foco em investimentos assertivos

Outro fator que justifica esta fase das startups é que o atual momento nos investimentos tende, indiretamente, a separar as startups que possuem importante visão estratégica, direcionamento claro e coeso para crescimento, e potencial de escalabilidade, daquelas que ainda não possuem planos consistentes a médio e longo prazo. Este fato faz com que os investidores tenham mais cautela ao fazer seus aportes financeiros, com escolhas cada vez mais criteriosas, fazendo, inclusive, com que os bons projetos sejam muito disputados por fundos diversos.

Destacam-se também aquelas que realmente estão focadas na transformação do mercado e na disrupção do setor. Diante dos altos investimentos nos anos anteriores, muitos empreendedores passaram a preocupar-se somente com o valuation da companhia como meta principal, esquecendo-se que o que faz o sucesso de uma startup é o impacto que ela pode trazer para a sociedade. 

Então se não há uma bolha, o que significa o atual momento?

Diante do cenário demonstrado acima, o que as startups estão fazendo neste momento é focar na sustentabilidade dos seus negócios, e isso resulta na consciência de gastos e investimentos, sem “queimar o caixa” sem direcionamento e justificativas claras, mas sim com maior responsabilidade com os números de crescimento e faturamento. 

Neste momento, acredita-se que não há uma bolha no mercado de startups e é possível ver oportunidades ainda melhores de investimentos, diante do ano anterior, ao perceber que os valores de mercado das companhias estão mais adequados ao seu desenvolvimento e, portanto, mais acessíveis também aos investidores que queiram alocar recursos financeiros em negócios com grande potencial e que tenham a consciência do retorno a médio e longo prazo.